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“Acredito que haja futuro para a imprensa apesar de ser manifesta a necessidade de simultaneamente se tornar digital”

Inês Conde coordena o curso de Comunicação e Média do Politécnico de Leiria

Do seu ponto de vista, que relevância mantém a imprensa no contexto atual, em que estão disseminadas plataformas diversas de comunicação?

Num mundo em aceleração, a imprensa é ainda um importante veículo de informação sustentada por uma análise mais aprofundada dos acontecimentos, acrescentado valor pelas narrativas de contexto que conta a partir dos seus panos de fundo, nas relações de causa e efeito que verifica e distribui, bem como no conteúdo útil que estuda, produz e dissemina. A qualidade da notícia e da reportagem, bem como o potencial de arquivo e memória que caracteriza os jornais, são mais-valias para acrescentar valor às dinâmicas de comunicação atuais, e, a partir deste ponto de vista, poder-se-á dizer que a imprensa continua a poder competir com as plataformas digitais e os modelos de leitura, produção e distribuição de conteúdos que instituem.

Acredita que a imprensa tem condições para cumprir a sua função com a consolidação do paradigma digital?

Acredito que haja futuro para a imprensa apesar de ser manifesta a necessidade de simultaneamente se tornar digital, de dominar os recursos criativos dos novos media e a suas formas de contar histórias. Deverá, a meu ver, adaptar a sua relação com os novos formatos e dinâmicas económicas, designadamente através do desenho de novos modelos de negócio que fomentem a convergência multiplataforma e do investimento cada vez mais empenhado em conteúdo de qualidade, sem perder de vista a credibilidade, a verificação de factos e a transparência, que são seu apanágio.

Uma das apostas poderá ser o incremento do jornalismo de investigação, de natureza precisa e de responsabilidade social. Este potencial poderá materializar-se também nas políticas e práticas educativas no âmbito da comunicação e dos media, que devem ambicionar formar leitores e produtores de informação ávidos, críticos e eficazes, designadamente através do incentivo à leitura de jornais impressos e digitais fora e dentro da sala de aula. Torna-se premente criar condições para a discussão das suas práticas de produção e distribuição, bem como as suas narrativas, e estabelecer comparações produtivas e socialmente comprometidas entre os meios tradicionais e os novos media. E ainda fomentar debates sobre o poder da imprensa escrita e digital em operar transformações nas comunidades que abrangem através da visibilidade que podem dar a questões de emancipação e equidade social, em vários domínios de assimetria e desigualdade.

Este é um desafio pois trabalhamos com uma geração que cresceu com o digital e que tende a não ser movida pelo aprofundamento do conhecimento e pela leitura extensiva, tendência que se poderá justificar também pelo advento do imediatismo oferecido nas dinâmicas de consumo dos novos media. É preciso resgatar esse interesse, transformá-lo num hábito, numa paixão. Fazê-la acreditar nos valores do jornalismo. Formar leitores competentes e conhecedores de imprensa, mas também produtores de conteúdos relevantes, que tenham competências de escrita em multiplataformas tecnológicas e conhecimento sobre os seus públicos e os produtos e narrativas que estes procuram consumir.

Como avalia a dinâmica da imprensa local e regional e a capacidade de assegurar as atividades informativa e de escrutínio, nomeadamente no que se refere a esta região de Leiria?

Além da sua função enquanto plataforma democrática de dar voz à comunidade, a relevância da imprensa local e regional está na forma como continua a oferecer aos cidadãos um contexto de informação que alia a profundidade do conteúdo à natureza localizada da sua presença, assim competindo com a incapacidade de as grandes plataformas de media, impressas e digitais, veicularem conteúdos originais que sirvam os reais interesses das comunidades. A imprensa local e regional constitui-se como agente na construção de um sentido de memória e identidade, embora deva investir cada vez mais numa ligação a contextos e redes de comunicação globais. Este potencial revela-se, por exemplo, na forma como oferece conteúdo específico e contextual, que tende a não ser reproduzido noutros meios de alcance nacional. Tem, além disso, atuado como agente de formação de jornalistas e outros profissionais da comunicação, nomeadamente pela estreita relação que estabelece com estabelecimentos de ensino regionais e os seus currículos, acolhendo estudantes em estágios curriculares ou disseminando produtos informativos realizados em contextos formais de aprendizagem, agindo como facilitadora na aquisição, por parte dos estudantes, de competências de literacia dos media e para os media. É, atualmente, o caso do Região de Leiria, que publica a cada dois meses o suplemento Jornal Akadémicos, integralmente produzido por estudantes de Comunicação e Media do Instituto Politécnico de Leiria.

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