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A preto e branco: Massas e elites

O conceito de massa surge numa fase inicial da industrialização para designar a nova organização, em que o povo rural dá lugar ao operariado urbano, anónimo, indiferenciado, sem vínculos entre si.

Elsa Rodrigues, professora elsardrgs@gmail.pt

O conceito de massa surge numa fase inicial da industrialização para designar a nova organização, em que o povo rural dá lugar ao operariado urbano, anónimo, indiferenciado, sem vínculos entre si.

No entanto, na segunda metade do século XX, o conceito adquire uma conotação mais positiva. Cultura de massas, comunicação de massas e educação de massas, facultada pelas escolas entretanto criadas, concretizam o ideal democrático de igualdade, de esbatimento das clivagens sociais e culturais entre massas populares e elites privilegiadas. A facilidade de acesso à informação, cultura e educação nivelou classes, aproximando-as, diluindo a vantagem, antes suficiente, dos privilégios adquiridos por nascimento. Mas o ideal de igualdade encerra um paradoxo, uma vez que não existem sociedades sem estrutura, nem estrutura sem hierarquia e poder. Mesmo provenientes do povo e sendo por ele eleitos, os que detêm os poderes (executivo, legislativo ou judicial), ou se instituem como modelos através da informação e comunicação de massas, são elites. Estão acima e impõem às massas os seus valores e vontades. O que não está provado é que as elites geradas pela sociedade de massas, apesar de mais legítimas, tenham qualidade superior às anteriores. Sejam financeiras, económicas, políticas ou culturais, parece cada vez mais que mérito próprio e excelência individual não são os critérios que estão na sua base.

(texto publicado na edição em papel de 30 de março de 2012)