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Culturismos: Mandar a conta para Bruxelas

No início de maio em Bruxelas, os ministros da cultura europeus (e, à falta de ministro, o secretário de Estado português) juntaram-se à mesa e decidiram que a verba a destinar à cultura e às empresas criativas devia ser consideravelmente reforçada.

Hugo Ferreira hjferreira@gmail.com

No início de maio em Bruxelas, os ministros da cultura europeus (e, à falta de ministro, o secretário de Estado português) juntaram-se à mesa e decidiram que a verba a destinar à cultura e às empresas criativas devia ser consideravelmente reforçada.

Francisco José Viegas, secretário de estado em exercício, apressa-se a dizer que estes quase dois mil milhões vão “ajudar as entidades culturais a dependerem menos de subsídios do sector público” e promete já para 2013 um “Balcão Europa Criativa” que promete auxiliar as entidades a prepararem as candidaturas de acesso ao programa financeiro europeu.

É difícil tentar descortinar o amplo sentido da declaração mas é sintomático de se olhar para a União Europeia como via única que só foi feita para nos dar subsídios e que não tem nada a ver com o Estado ou o sector público.

O apregoado investimento da Europa Criativa não pretende nem vai substituir o Estado no apoio às companhias e associações culturais. Vai sobretudo destinar-se a empresas bem estruturadas que trabalhem a cultura e a internacionalizem e é mais provável que chegue a uma sociedade que faça hologramas xis-pê-tê-ó em pop art do Cristiano Ronaldo do que a uma associação que trabalhe com música e coloque centenas de miúdos a desenvolverem as capacidades cognitivas.

O desinvestimento na cultura e na educação inviabilizam a definição de qualquer rumo ou estratégia viável para o país e ficamos formatados ao que nos quiserem impor sem conseguir criar lugares para os poucos empreendedores e criativos que vão aparecendo. Isto é, perdemos a “capacidade de desenrascar” e cada um que tenha a “capacidade de se desenrascar”.

Até podemos (como aliás temos feito) continuar a mandar a conta para Bruxelas, mas com a conta vão os possíveis cérebros e estrategas em quem devia estar o nosso futuro.

(texto publicado na edição em papel de 8 de junho de 2012)