Assinar

Culturismos: O som que a Liberdade tem

A cerimónia comemorativa do 25 de abril, na cidade de Leiria, vai ter como convidado o ilustre leiriense Adelino Gomes.

Hugo Ferreira hjferreira@gmail.com

A cerimónia comemorativa do 25 de abril, na cidade de Leiria, vai ter como convidado o ilustre leiriense Adelino Gomes.

É realmente importante ter a noção que Adelino Gomes foi o primeiro jornalista a fazer uma peça sem quaisquer constrangimentos ou censura. Quando nessa madrugada de 1974 saiu de sua casa com o gravador às costas e recolheu todos os sons de uma revolução única no mundo, teve “pela primeira vez a oportunidade de ouvir as pessoas a falar a sério”.

Este é o mesmo Adelino Gomes que estava em Timor quando o país foi invadido por tropas indonésias, o mesmo que influenciou decisivamente toda uma geração de bons comunicadores e jornalistas. Não são muitos, mas são realmente bons, porque seguiram o seu exemplo.

Quando se fala em jornalismo e em liberdade de imprensa em Portugal, é obrigatório falar no seu nome.

Talvez a comunicação social se lembre disso daqui a uns anos. Talvez os políticos de hoje, que festejaram a revolução ao som da sua voz, se lembrem disso daqui a uns anos.

Mais do que homenagear o seu nome, o país precisa de homenagear a sua competência e a sua determinação.

E é motivo de regozijo, saber que, 38 anos depois, aquele que saiu para a rua sozinho, sem saber o que se iria passar, e que arriscou tudo para levar ao seu auditório um relato de esperança e felicidade, vai ser a personagem principal das comemorações do Dia da Liberdade.

Quando se contestam cada vez mais as classes e forças políticas, e quando surgem, aqui e ali, ensejos de revivalismo e de saudosismo que tendem a desculpar um regime que oprimiu e torturou um povo, ouvir Adelino Gomes é, como diria Kant, um imperativo categórico.

(texto publicado na edição em papel de 30 de março de 2012)