O nacionalismo europeu não se alimenta apenas da vontade de afirmação de uma identidade política, mas do ressentimento, à qual se associa a impotência colectiva e o orgulho ferido.
A crise das dívidas soberanas tem vindo a fazer crescer o nacionalismo, o separatismo e a xenofobia contra as minorias étnicas e os “PIGS” do sul. As elevadas taxas de desemprego na UE, a par da estagnação económica e da recessão nas periferias, abrem a porta ao populismo e ao fortalecimento dos partidos anti-sistema, como acontece na Grécia, na Hungria, na Itália e em França.
O pilar Franco-Alemão, em que assentou a criação do Euro e a própria UE, revela uma crescente tensão e fragilidade, dadas as dificuldades económicas com que se debate a França e que já levaram a uma mudança da política interna, também devido à crescente influência da Frente Nacional.
O crescimento das exportações em alguns países da periferia europeia não se traduziu em qualquer abrandamento da austeridade ou da pobreza. A UE surge crivada de profundas desigualdades nacionais e económicas, atrelada à vontade alemã e aos objectivos eleitorais de curto prazo. A única estratégia evidente para o cidadão comum que sofre a crise e a austeridade é o sentimento de estar apanhado numa ratoeira armadilhada pelos países credores e os especuladores internacionais, de onde só pode fugir pela emigração, caso não tenha, entretanto, sucumbido a uma resignada aceitação da miséria e da ausência de futuro.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>A par da crise económica e da paralisia das instituições europeias, os estados membros têm vindo a perder soberania e capacidade de decisão a nível interno e interestatal. O programa da Troika aplicado a Portugal pode servir de exemplo de uma política de construção da dependência e da subserviência.
A manter-se a actual política europeia, estão criadas as condições, face ao desgaste dos partidos tradicionais, para fortes mudanças capazes de abalarem as estruturas democráticas e lançarem a UE numa crise geral. Neste contexto, as eleições europeias de Maio ganham particular acuidade e relevância para aferir o peso do sentimento anti-UE.
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(texto publicado na edição de 30 de janeiro de 2014)