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É sexta-feira foge comigo: “O quotidiano”

Nas esplanadas debaixo ou fora dos arcos, conforme a escolha de cada um, a fauna era diversificada. Enquanto uns se lamentavam por naquele ano a empresa onde trabalhavam não lhes oferecer uma viagem exótica a uma qualquer morada frequentada pela banca à procura do melhor offshore, porque tinham acabado de despedir 50 pessoas e “era chato”, outros, daquela espécie que passa a vida a queixar-se mas que “graças a Deus” iam, mais uma vez (como todos os anos) ao Brasil “com muito sacrifício”, como faziam questão de reforçar. Outros ainda comentavam os assuntos das revistas à disposição no café, hermeticamente colocadas num suporte pregado à parede.

Nas esplanadas debaixo ou fora dos arcos, conforme a escolha de cada um, a fauna era diversificada. Enquanto uns se lamentavam por naquele ano a empresa onde trabalhavam não lhes oferecer uma viagem exótica a uma qualquer morada frequentada pela banca à procura do melhor offshore, porque tinham acabado de despedir 50 pessoas e “era chato”, outros, daquela espécie que passa a vida a queixar-se mas que “graças a Deus” iam, mais uma vez (como todos os anos) ao Brasil “com muito sacrifício”, como faziam questão de reforçar. Outros ainda comentavam os assuntos das revistas à disposição no café, hermeticamente colocadas num suporte pregado à parede.

– Não há direito! – comentavam alguns convivas debruçados sobre o papel – Viram os outros que apareceram na televisão à porta a fazer greve, com a polícia a escorraça-los e um dos patrões a entrar tranquilamente de Jaguar? Parece que se ainda ia a rir! Ai se isto fosse um país de jeito!

– Chulos! – gritou um senhor de idade, para susto de todos os presentes que o julgavam a dormir profundamente encostado a um canto.

– E o combustível?

– Disse-me um primo meu, que é advogado, que eles aprovam a favor deles decretos-lei durante o Verão, que é quando o pessoal anda mais distraído.

– E depois vão gerir grandes empresas!

– Ladrões! – Insistiu o idoso com a voz a sumir-lhe.

– Não é de admirar que a economia ande toda de pantanas – disse um senhor que estava constantemente a contar as suas peripécias de emigrante – Vejam lá, que quando vivi em Frankfurt, costumava frequentar uma chocolataria ali nas traseiras do Banco Central Europeu. Um dia meti conversa com uma das empregadas que me disse que o cocktail com mais saída era o “chocolate body painting”! Aquilo basicamente consiste nisto: as secretárias besuntam-se de chocolate com um pincel e os altos executivos, os mesmos que decidem sobre o nosso dinheiro, lambem! Com a cabeça mergulhada nos atributos das secretárias, como podem eles tomar decisões acertadas sobre a nossa economia?

– Esse deve ser um emprego bestial! – disse de passagem um bancário entre dentes.

– Não há direito! – disse o senhor antes de voltar a fechar os olhos.

texto: Pedro Miguel
som: Beijo Negro
vídeo: a9))))

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