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“Ser reitor ou presidente para mim é indiferente”

Acabou de ser eleito, nesta quinta-feira, dia 15, presidente do Instituto Politécnico de Leiria. Rui Pedrosa, 42 anos, chega à liderança da principal instituição de ensino superior da região. Em novembro, o REGIÃO DE LEIRIA entrevistou-o e conferiu quais as apostas e ambições deste doutorado em Biologia Humana para a liderança do instituto. 

Acabou de ser eleito, nesta quinta-feira, dia 15, presidente do Instituto Politécnico de Leiria. Rui Pedrosa, 42 anos, chega à liderança da principal instituição de ensino superior da região. Em novembro, o REGIÃO DE LEIRIA entrevistou-o e conferiu quais as apostas e ambições deste doutorado em Biologia Humana para a liderança do instituto. 

Por que razão quer perder o prefixo de vice?
Entendo que a função que tenho no Instituto Politécnico de Leiria (IPL), como vice-presidente para a área de investigação e inovação, me traz um conhecimento bastante grande de todo o politécnico. Para além disso, sinto que tenho responsabilidades acrescidas, tive um contributo muito grande na equipa da presidência no desenvolvimento do plano estratégico do Politécnico para 2020. Também quero ajudar a instituição a crescer e alcançar novos desafios. No fundo, fazer com que a instituição seja cada vez mais reconhecida a nível regional, nacional e internacional.

Como é que vê o facto de ser o único candidato conhecido até ao momento? É uma corrida muito solitária?
Atualmente, que tenha conhecimento, sou o único candidato publicamente assumido. Não me sinto só, mas também não vejo nenhum problema, pelo contrário, em que apareçam candidatos: nos processos democráticos é útil trocar ideias e discuti-las e ter a capacidade de encontrar os melhores caminhos. Não me sinto solitário, porque na realidade, nestes últimos anos e nos últimos tempos em particular, tenho tido oportunidade de falar com muita gente. Muita gente dentro do IPL – estudantes, técnicos e administrativos, professores e investigadores, e na realidade também posso transmitir isso: sinto de facto um apoio forte das diferentes escolas, dos centros de investigação, dos técnicos e administrativos.  E também sinto bastante conforto e apoio de entidades da região e de entidades nacionais. E também de presidentes de autarquias e de associações empresariais, de presidentes de centros hospitalares… enfim, tenho sentido um apoio bastante grande, que me faz pensar que de facto temos muito para construir e eu estarei disponível para trabalhar.

Quais são as suas principais propostas para o IPL, caso venha a ser eleito presidente?
Nos últimos anos, o IPL cresceu muito. A nossa estrutura, o nosso perfil enquanto instituição do ensino superior mudou muito. Atualmente, 60% do corpo docente tem o grau de doutor. Temos 18 unidades de investigação, que na sua grande maioria já estão reconhecidas e avaliadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Temos quase uma centena de estudantes de doutoramento que estão a fazer os trabalhos nos nossos centros de investigação, orientados ou coorientados pelos nossos professores. Temos mais de 90 projetos de investigação e inovação financiados.

Havia dois fatores que, aparentemente, concorriam contra isso: a demografia que se traduz em cada vez menos jovens e o processo de Bolonha, que reduz a permanência dos estudantes nos cursos. Ainda assim, foi possível crescer?
No tipo de atividade, crescemos muito. Felizmente, nos últimos três anos, também crescemos no número de estudantes. E também na capacidade de promover as atividades que vamos fazendo, no reconhecimento da qualidade da nossa formação e nesta aposta muito importante da internacionalização. Mas há quatro ou cinco projetos e ideias que são basilares na visão que tenho para o Politécnico de Leiria.

Por exemplo…
Quero afirmar mais, de plena substância, de modo transversal, todas as áreas de conhecimento que o Politécnico tenha. Que o nosso ecossistema de investigação e inovação seja mais forte. Basicamente, que a cultura da comunidade académica do Politécnico, veja na inovação e no conhecimento o seu maior fator distintivo. É aí que as instituições de ensino superior se diferenciam: nesta capacidade de ter projetos com as empresas, de os concretizar e gerar novos produtos e inovação de processos. E isto não tem que acontecer exclusivamente na área da engenharia alimentar, automóvel, ou industrial, no sector dos moldes e plásticos, na indústria cerâmica. Isto tem de acontecer cada vez mais nas áreas da saúde e da inovação social. Será prioritário também o crescimento na área de investigação, mas também de formação, na área da saúde. Temos muita capacidade instalada e muita capacidade para crescer. Nos mestrados, espero que a longo prazo nos doutoramentos, temos de pensar na colaboração com os centros de cuidados de saúde da região, em particular o Centro Hospitalar de Leiria e o ACES. Pensar ainda num centro académico de saúde que será algo igualmente estratégico. Pensar numa Learning Factory ou num Laboratório-fábrica ligado à indústria 4.0, também será outra das nossas prioridades no futuro.

Está a indiciar um reforço com o sector terciário da economia?
Temos de reforçar com o sector secundário e ter este tipo de atividades com o sector terciário e de modo indirecto – do ponto de vista da inovação e investigação – em algumas dimensões do sector primário. Acredito que a melhor forma de transferir conhecimento e marcar a diferença, é através das nossas pessoas. E isto só é possível com um investimento claro na cultura do mérito.

Como é que se faz isso?
Existem alguns instrumentos que nos permitem valorizar também as dimensões da investigação e da inovação. Mas também podemos estar a falar na absoluta necessidade de crescermos no ponto de vista da inovação pedagógica, do ponto de vista das metodologias, onde os nossos professores são parte crítica deste processo, para gerar condições diferenciadoras no processo de ensino/aprendizagem. Criando  ainda, simultaneamente, ecossistemas de espaços diferenciadores que permitam este tipo de metodologias para que os trabalhos de projeto aconteçam de modo transversal, alterando as metodologias pedagógicas, inovando, mas também criando novos espaços, renovando espaços e equipamentos, para que a nossa formação fique mais atrativa para os estudantes e que ao mesmo tempo, também promova algo de que precisamos todos muito: o sucesso académico, combate ao insucesso e estancar algum abandono que também temos. Quero ainda continuar a apostar e reforçar a internacionalização. Naturalmente, com as questões demográficas, vamos ter, a relativamente curto prazo, uma redução no número de estudantes que chegam pelo concurso nacional de acesso.

Leiria tem capacidade, desejo e vantagem em atrair talento internacional que recorre ao IPL para melhorar as suas competências?
Não tenho dúvida nenhuma.

A região está preparada para isso?
Plenamente. A região oferece qualidade de vida e emprego as estas pessoas que se podem depois fixar cá. E tem também suporte na dimensão dos serviços de saúde, educação e nos servidos associados à atração turística.

Imaginamos que é eleito presidente no início de 2018 e vamos olhar para trás no final do seu primeiro mandato, em 2022. O que é que vê do IPL, no que se refere a esta componente internacional?
Vejo um reforço do número de estudantes que vêm fazer ciclos completos de estudo. Vejo muitos programas conjuntos com instituições de ensino superior internacionais que têm, na sua génese, mobilidade de professores e de estudantes. Vejo uma internacionalização com muitas duplas titulações, graus conjuntos entre o Politécnico e outras instituições do ensino superior e vejo isso em licenciaturas, nos mestrados e estou certo que vou ver em doutoramentos.

Já se vê na possibilidade de ser reitor em 2022 da Universidade de Leiria?
Ser reitor ou presidente, para mim pessoalmente, é completamente indiferente. Se a nossa designação passar para Universidade Politécnica, se pudermos com essa alteração ter doutoramentos, se os poderes políticos entenderem que as universidades politécnicas não têm reitor mas sim um presidente, não vejo nenhum problema. É certo que numa dinâmica de comparação internacional, uma universidade politécnica tem um reitor e por essa via poderá não fazer sentido ter um presidente. Mas não é por essa razão que lutarei com todas as forças que tiver para que tenhamos os doutoramentos, porque é absolutamente essencial sobretudo para sectores de atividade de ponta que estão neste território. Que os nossos estudantes de doutoramento, desde a primeira hora, tenham um processo construtivo de investigação, juntamente com as entidades e empresas. E isto é completamente possível, naturalmente na área das engenharias, mas também da economia social.

Tem consciência de que é encarado como candidato de continuidade?
Eu entendo que é a leitura mais óbvia e, de algum modo, legítima. Eu faço parte desta equipa, tenho ajudado a construir o crescimento do politécnico. Nessa perspetiva revejo-me no que temos construído, nesta equipa e no projeto do atual presidente, Nuno Mangas. Mas há outras dimensões que entendo serem diferentes. Somos pessoas claramente diferentes. Provavelmente, na relação de proximidade com técnicos e administrativos, com os professores e investigadores, poderemos ser ligeiramente diferentes. Temos, por vezes, opiniões divergentes, mas sobretudo, temos um percurso algo diferente de carreira académica. O presidente Nuno Mangas, há mais de 20 anos que tem cargos de gestão. Eu tive a oportunidade de ter alguns cargos de gestão nos últimos quatro anos, fui também coordenador de uma unidade de investigação. Mas fui também, durante vários anos, professor, investigador principal de projetos nacionais e internacionais envolvido na realidade de prestação de serviços a empresas e de publicações de circulação internacional. Tenho uma experiência diferente no ponto de vista de professor e muito diferente enquanto investigador.

Está a dizer que há áreas em que vai fazer melhor?
Há áreas em que vou poder tentar fazer melhor e onde terei mais sensibilidade, mas há áreas em que discordamos.

Quer dar alguns exemplos?
Posso dar um exemplo claro disso. O professor Nuno Mangas, o meu colega, desde há algum tempo a esta parte, acredita, do ponto de vista pessoal, que o melhor para a instituição seria o caminho da fundação. Eu tenho uma visão diferente: acredito muito no ensino superior público, acredito muito que a relação jurídica que temos tem dado resposta à missão do Politécnico de Leiria. E não sou defensor da fundação. Não é algo que eu ache que seja estratégico. Naturalmente que se o novo conselho geral entender discutir a questão, estou disponível para discutir. Mas onde temos de ser cada vez mais duros e incisivos é reforçar a autonomia enquanto instituição de ensino superior. Não vejo grandes vantagens ou vejo muito poucas vantagens na passagem para a fundação. E aí discordamos claramente. Também a ideia de, por exemplo, cada vez valorizarmos mais os professores que têm mais projetos de inovação – de serviços às empresas, inovação social ou pedagógica – ou os professores que têm mais patentes ou mais publicam internacionalmente. Também aqui temos visões ligeiramente diferentes. São dois exemplos, podia dar outros. É evidente que em muita coisa estamos de acordo. Construímos em conjunto nesta equipa, que me apoia, o plano estratégico de 2020. Eu revejo-me naquele processo e nos objetivos definidos e vou tentar alcançá-los.

Nota: extrato da entrevista publicada na edição em papel de 30 de novembro de 2017 do REGIÃO DE LEIRIA

Carlos S. Almeida
Jornalista
carlos.almeida@regiaodeleiria.pt

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