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Sorrisos, emoção e nervosismo q.b. marcam arranque da vacinação no Estádio de Leiria

“Sinto-me mais sossegada, era um momento que esperava”, confessou Ana Silva, a primeira profissional de saúde vacinada esta manhã.

“É uma emoção imensa por tudo o que representa o aparecimento da vacina”.

Esta foi uma das reações que marcou uma manhã repleta de sorrisos, emoção e algum nervosismo, no arranque da vacinação de profissionais de saúde do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral, esta manhã, no Estádio de Leiria.

Ana Silva no momento em que recebeu a primeira vacina desta manhã Foto: Joaquim Dâmaso

Eram 9h09 quando a Ana Silva, médica coordenadora do programa de Vacinação no ACES Pinhal Litoral, foi administrada a primeira dose da vacina desenvolvida pelos laboratórios da Pfizer-BioNTech.

O momento vivido pouco depois das nove da manhã, arrancou sorrisos e até palmas entre os presentes. Lá fora, reinava a antecipação entre quem esperava pela sua vez para receber a nova vacina.

Instantes após ter levado a vacina, Ana Silva confessava: “Sinto-me mais sossegada, era um momento que esperava”. Afinal, “como toda a unidade de saúde pública, tenho andado na guerra, como dizemos na gíria, e tenho tido a sorte de nunca ter sido infetada, apesar de ter estado em contacto inúmeras vezes com pessoas infetadas”.

Agora, a vacina “dá-me mais segurança, não gostaria de ser infetada”, comentou.

Ao REGIÃO DE LEIRIA, a coordenadora do programa de Vacinação no ACES Pinhal Litoral, explicitou o impacto do arranque da vacinação.

Fátima Soares, enfermeira que momentos antes esteve envolvida na preparação das vacinas ministradas nessa manhã, foi a segunda pessoa a ser vacinada, recebendo uma das 110 doses disponíveis.

“Vocês estão a presenciar momentos históricos”, refere um elemento da equipa de vacinação. E esse era o ambiente que se respirava. Estava a fazer-se história na batalha contra a pandemia e aqueles profissionais de saúde estavam a participar ativamente.

Fátima senta-se e a agulha da seringa responsável por levar a principal arma de combate à pandemia, penetra na parte superior do braço esquerdo, introduzindo as 30 unidades (0,3ml) que compõem a primeira dose.

“Levei a vacina da gripe este ano e doeu-me bem mais que esta”, revela Fátima Soares, dirigindo-se à colega, Mónica Pereira, responsável por administrar a vacina.

Na sala especula-se se a falta de dor se deve às mãos mais experientes de quem dá a vacina. Mas a enfermeira vacinada há segundos, puxa pela memória e recorda-se que fora também Mónica Pereira quem lhe deu a vacina da gripe. A nova vacina marca, assim, pontos.

Não há sinais de dor, mas há outros efeitos secundários do momento único vivido. “Estou mais nervosa porque estive a preparar as outras [vacinas] e isso dá-me algum stress”, admite Fátima Soares.

Cabe a Delfina Carvalho, médica e diretora executiva do Aces Pinhal Litoral, completar o rol dos três primeiros profissionais de saúde vacinados.

O entusiasmo na sala é indisfarçável. De tal forma que o nervosismo, a existir, passa despercebido. Ana Silva, visivelmente satisfeita com o arranque do processo de vacinação, apregoa a segurança da prática: “desde 1989, nunca tivemos reações anafiláticas graves no Aces Pinhal Litoral”. E hoje não será o dia, completa, confiante.

“Acho que é um ato de esperança, que tudo vai correr melhor. Estou completamente confiante”, adianta Delfina Carvalho.

Responsável pela coordenação das equipas de saúde pública, Odete Mendes, é a quarta vacinada da manhã. E a médica coordenadora da Saúde Pública não consegue disfarçar o impacto do momento: “estou muito emocionada”, afirma, com as lágrimas a ameaçarem romper.

“É uma emoção imensa por tudo o que representa o aparecimento da vacina”, referiu. “Eu estou emocionada, [a vacina] representa um esforço imenso da comunidade [científica], pela primeira vez, de todo o mundo, para conseguir de facto, travar esta pandemia que nos tem assolado, aos profissionais e também à comunidade”, acrescentou.

No momento de ser vacinado, o médico Rui Passadouro, reforçou o peso simbólico da situação: “É extremamente importante porque abrem-se as portas a um futuro mais tranquilo, tivemos nove meses complicados”.

A esperança, completou, “é sobretudo para as pessoas, este é um primeiro passo, esperamos que a população possa beneficiar de uma proteção que há muito tempo ansiamos”.

Vacina foi preparada vários minutos antes do arranque do processo no Estádio Foto: Joaquim Dâmaso

Coube a Mónica Pereira, enfermeira há quase 25 anos, profissional de saúde pública em Leiria, a tarefa de administrar a vacina. Embora experiente no mundo das vacinas, admite “algum nervosismo” pois “a vacina é nova”.

Ao rol de ingredientes que alimentam o nervoso miudinho, acresce “toda a publicidade que houve em volta da vacina, os cuidados que temos e os medos que temos, há sempre um tremer que não há quando estamos a dar outra vacina que já damos há imenso tempo”.

Para quem, como é o seu caso, está na linha da frente na luta contra a pandemia, a vacina é, refere, “uma luz ao fundo do túnel”. “É o virar de uma página, é o princípio do fim [da pandemia]”. 

“Especialmente para pessoas que têm andado na linha da frente, que é o meu caso e da minha colega, a todos os níveis, a fazer contactos, colheitas, ir a lares, a falar com pessoas aflitas que nos ligam a qualquer hora, é um virar da página”.

Mónica Pereira, enfermeira

“É uma esperança”, acrescenta com a voz a deixar transparecer emoção.

“É muito simbólico e acreditamos que seja uma esperança”, reforça Cristiana Rosário, enfermeira de saúde pública, que adjuvou Mónica Pereira na tarefa de vacinação.

“A nível da comunidade estamos a passar momentos difíceis, mas de nós, profissionais de saúde, exigem-nos mais”, aponta, lembrando que para além do desafio profissional e da constante disponibilidade, a pandemia reduziu a zero a vida social: “acreditamos que possa ser o caminho para a solução”.

A solução que, literalmente, foi administrada nessa manhã, foi preparada largos minutos antes das nove horas pelas enfermeiras Dina Pascoal e Fátima Soares, que com Ana Silva e a farmacêutica Isabel Craveiro, compõem a equipa coordenadora da vacinação do Aces.

Equipa coordenadora da vacinação do Aces Pinhal Litoral Foto: Joaquim Dâmaso


Do ponto de vista técnico, as diferenças com as restantes vacinas são residuais, mas o “mediatismo e a pressão para que não haja desperdício e que tudo corra bem”, acrescenta pressão à tarefa, “porque são vacinas preciosas, daí estarmos um pouco nervosas na preparação”, explica a enfermeira Dina.

A relevância do momento, levado a cabo em instalações municipais é presenciada por Gonçalo Lopes, presidente da Câmara de Leiria.  O estádio é a infraestrutura que para além das instalações convencionais, mais horas teve de serviço à saúde no concelho, frisou. E, explica, quis testemunhar um processo “que fecha um ano que foi dramático e abre um ano com enorme esperança”.

E quando chegar o momento, aceita ser vacinado? “Claro, o processo de vacinação está perfeitamente assimilado pela maior parte da população”, considera. “Felizmente a esmagadora maioria vai seguir o exemplo dos profissionais de saúde que, melhor que ninguém, sabem a importância de estar vacinado”.

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