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Cultura

“O folclore necessita urgentemente de se abrir à academia”

No Freixial, o investigador André Camponês alertou, na edição de estreia das Jornadas Internacionais de Etnografia, para a necessidade dos ranchos se reinventarem.

A pandemia trouxe ainda mais desafios para o futuro de ranchos e grupos que se dedicam ao folclore, pelo que é urgente uma readaptação à realidade, defendeu o investigador André Camponês durante as Jornadas Internacionais de Etnografia de Leiria (JIEL), realizadas no sábado, 20 de novembro, no Freixial.

O antropólogo e investigador do centro Tech&Art do Politécnico de Tomar, que tem trabalhado a etnografia, folclore, museologia, literatura popular e tradição oral dos distritos de Leiria e Santarém, foi veemente na edição de estreia das JIEL, advertindo que “os ranchos têm de voltar ao grau zero, têm de se refuncionalizar”, chamando “pessoas com conhecimentos específicos sobre a realidade”.

“Querer só mimetizar o século XIX e o início do século XX não chega e nem sempre representa a realidade. O folclore necessita urgentemente de se abrir à academia. Não falo só do folclore local, falo da Federação do Folclore Português, que já o devia ter feito há muito tempo”, apontou o investigador.

Questionado sobre como podem os ranchos renovar-se e atrair a juventude, André Camponês lembrou “o excelente trabalho” feito pela Associação de Folclore da Região de Leiria – Alta Estremadura (AFRLAE) com o projeto Baile dos Pastorinhos:

“É um exemplo de boas práticas”, tanto “em termos de educação como de transmissão formal das danças tradicionais”, abrindo caminho para “incentivar os jovens de outras formas, sem ser festivais”.

“Os ranchos não se pode ater única e exclusivamente a festivais”, vincou. “O folclore não passa só por festivais – e tem sido muito isso. É [preciso] ter a capacidade para ressignificar os nossos recursos e adaptarmos-nos à realidade que temos”, disse o investigador do Politécnico de Tomar.

Já perto do fim do programa das JIEL, Mário Correia, fundador do Festival InterCéltico de Sendim e do Centro de Música Tradicional Sons da Terra, de Miranda do Douro, resumiu a ideia numa frase:

“Quem não semeia o progresso, faz morrer a tradição”.

A vereadora da Cultura de Leiria também acompanha esta corrente de opinião, tendo no Freixial elogiado o Baile dos Pastorinhos por ter conseguido “levar a cultura popular aos mais novos, e de forma criativa”, em tempos de pandemia.

Para Anabela Graça, o projeto da AFRLAE é um exemplo da reinvenção que o município de Leiria pretende também, por exemplo, para os museus. “A leitura que hoje se faz do museu não é a mesma de há alguns anos atrás. Os museus têm de se reinventar” para conseguirem “uma interação completamente diferente” com as novas gerações.

Ao longo do dia, as JIEL contaram com várias comunicações e testemunhos que alargaram o conhecimento dos vários representantes associativos e interessados na área que marcaram presença no auditório do Museu do Freixial, no Arrabal.

Num balanço final, o coordenador das JIEL, Adélio Amaro, saudou o contributo dos trabalhos para a definição sobre “quais os caminhos que queremos para o futuro”.

“O folclore não pode estagnar, não podemos esquecer as nossas tradições. Somos todos nós que podemos fazer e promover as nossas tradições”, reforçou.

Anabela Graça considerou as JIEL “o início numa nova etapa” no reforço da aposta municipal na cultura popular, com a troca de experiências nacionais e internacionais.

“Estas jornadas nascem com o objetivo de experimentar, conhecer, aprender, partilhar ideias, conceitos e trabalho de investigação, como aqui assistimos” para “continuar a desenvolver a entidade entográfica que pretendemos que seja alargada”.

As jornadas terão lugar anualmente, também enquanto “trampolim para fortalecer a união entre as instituições”.

“Esta jornada de trabalho dá alento a esta organização para continuar e a melhorar, e crescer nesta troca de experiências e de promoção à volta do conhecimento, que interessa não só aos grupos folclóricos mas a todos os que se interessam pela área antropológica”, concluiu a vereadora.

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