Assinar

A Corda: O Espantalho e o dia da Horta

Era uma vez um boneco feito de roupas velhas, trapos e muita palha que tinha a missão de espantar as aves que ameaçavam uma pequena horta à beira mar plantada.

Rui Costa, músico rui.costa@regiaodeleiria.pt

Era uma vez um boneco feito de roupas velhas, trapos e muita palha que tinha a missão de espantar as aves que ameaçavam uma pequena horta à beira mar plantada. Mas este espantalho em vez de afugentar as aves convidava-as para se deliciarem com as hortaliças e legumes que cresciam nas plantações que devia proteger. Era um espantalho simpático e fofinho para todas a aves esfomeadas! Elas adoravam-no e até o costumavam condecorar com algumas substâncias sólidas que provinham do seu processo digestivo. O espantalho era feliz na sua horta e sentia-se útil, porque enquanto outros trabalhavam horas e horas para cultivar aquelas terras, ele, completamente imóvel, conseguia alimentar todas as aves do Mundo. Por isso, os lavradores nada satisfeitos com o trabalho do espantalho, pediram aos Protectores Unidos dos Trabalhadores Agrícolas (P.U.T.A.) que construíssem outro ou mais espantalhos, porque a sua última criação não estava a resultar na missão de proteger a sua rica horta. A solução pensada pela “mãe” de todos os espantalhos passou pela construção de vários estafermos, bonecos de metal ou de lata com uma arma numa extremidade e um escudo de defesa na outra. Mas cedo os lavradores mostraram alguma insatisfação pelo trabalho dos “homens de lata” e até se mostraram indignados quando um deles culpou o excesso de chuva pela escassez de hortaliças… a lata do espantalho!
O mais incrível era que, apesar de todos os prejuízos causados pela sua ineficácia, o grande espantalho feito de roupas velhas era convidado todos os anos para estar à frente de um ritual muito importante: o Dia da Horta! Neste importante dia, o espantalho pegava em praticamente toda a sua palha e lançava-a ao vento, criando desta forma um lindo bailado de palha! Durante toda essa cerimónia os lavradores chegavam sempre à triste conclusão que nenhum daqueles filhos da P.U.T.A. iria proteger a sua horta.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado a 13 de junho de 2013)