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Ilustração do rosto de Patrícia Duarte

Patrícia Duarte

Diretora-adjunta do REGIÃO DE LEIRIA

A melhor herança

“O que consideramos ser o nosso território tem muito mais de social, cultural e afetivo do que de administrativo e geográfico”.

Nos próximos dias, a circulação entre concelhos terá restrições. De repente, percebemos quantos dos nossos passos, tão rotineiros, nos fazem atravessar as fronteiras dos municípios. Por semana, entre quantos circulamos e com que frequência?

Não será necessário fazer a conta para verificarmos que o que consideramos ser o nosso território tem muito mais de social, cultural e afetivo do que de administrativo e geográfico.

Este é um ponto que o projeto “Leiria Capital Europeia da Cultura 2027” coloca em evidência como nenhum outro colocou até hoje. A candidatura que está a ser preparada envolve nada mais, nada menos do que 26 municípios de três distritos diferentes: Leiria, Lisboa e Santarém.

Unir, em prol de um projeto, comunidades tão diversas como aquelas que se encontram representadas nos 26 municípios é uma tarefa hercúlea. Fazer com que os seus interesses, visões e prioridades possam convergir e tomar um só rumo é um desafio tremendo. Gerir as várias sensibilidades – e tão sensíveis que elas são – é uma aptidão só ao alcance de alguns.

O congresso da Rede Cultura 2027 que, este fim de semana, terminou em Leiria e Caldas da Rainha, é digno de nota. Pelo compromisso com um projeto comum – que é diferente de um projeto conjunto -, pela capacidade de pensar coletivo, pela esperança de “criar comunidade”, como referiu João Bonifácio Serra. E, não menos importante, pelo lugar em que coloca a cultura. Ela, que na sua dimensão económica atravessa um momento tão difícil, mas que na sua dimensão humana está, afinal, tão forte, viu aqui reafirmado o seu papel único e indispensável no desenvolvimento das sociedades.

Se a cultura, como afirmou José Tolentino Mendonça durante o congresso, “é a bússola para navegar no emaranhado do presente e, ao mesmo tempo, a primeira antena dos sinais do futuro”, o destino deste território, com o projeto de Capital Europeia da Cultura, só pode ser de avanço e prosperidade, para nós que o estamos a construir, mas sobretudo para as gerações mais novas. Não há melhor herança que se possa deixar.