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Ansiolítico urbano: Primeiro é só um frémito

Talvez se pareça com uma espécie de “frio de estômago” ou “brilho nos olhos”.

Ana Bonifácio, arquiteta urbanista ab@anabonifacio.com

Talvez se pareça com uma espécie de “frio de estômago” ou “brilho nos olhos”. Isto de “frémito urbano” (coisa aqui inventada) é um estremecimento que dá por dentro, causado pelo que está de fora, sem ser coisa nem gente. É o que pode exaltar um lugar. (Depende de quem é exaltado, depende do lugar, depende do tempo!). Pode, simplesmente, acontecer.

Há sítios com aptidões especiais que estimulam isso mesmo. São lugares singulares ou uma espécie de “maravilhas irrepetíveis” (mas não necessariamente alguma vez identificadas como património). Pode ser um jardim ou uma rua. Pode ser uma praça. Aliás, note-se, que das antigas e modernas maravilhas só constam construções e objetos fabricados.

Apesar de também eles resultarem da ação humana mais ou menos intencional, não se certificam “vazios urbanos maravilhosos”.

É para estes lugares que sugiro dar uma atenção agora. Acendam-se lá os holofotes e veja-se em que lugares da cidade há gente, interação, mercado e trabalho. Vida, portanto.

Em momento de pantanas geral, é preciso perceber o que é que os faz continuar a vibrar. Para quem os usa é bom saber que há territórios de conforto. Para quem decide é preciso: 1) capacidade para os manter e; 2) inspiração para os “levar” além. Até podem estar longe de ser a panaceia para o estado de sítio mas, sentindo o frémito, é preciso criar a partir deles.

(texto publicado a 4 de outubro de 2012)