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Crónica irregular: Quando mal, nunca pior

Em cerca de um ano a justiça norte-america­na investigou, acusou, julgou e condenou Bernard Madoff, confiscou-lhe os bens incluindo um anel milionário que oferecera à mulher, e distribuiu o valor pelas vítimas.

Fernando-mendes
Fernando Mendes, editor da Imagens & Letras fernando.mendes@imagenseletras.pt

Em cerca de um ano a justiça norte-america­na investigou, acusou, julgou e condenou Bernard Madoff, confiscou-lhe os bens incluindo um anel milionário que oferecera à mulher, e distribuiu o valor pelas vítimas.

Em menos de dois anos, a justiça portuguesa julgou e condenou um sem-abrigo a pagar 250 euros por tentar roubar num supermercado um polvo e um champô.

Em dois anos, a justiça alemã investigou acusou, julgou e condenou dois gestores por corrupção na venda dos submarinos a Portugal e obrigou a empresa a pagar uma multa de 140 milhões de euros.

Ao fim de quatro anos, a justiça portuguesa absolveu todos os arguidos no processo das contrapartidas dos submarinos e passou um raspanete ao Ministério Público por a acusação não ter pés nem cabeça.

Em cinco anos, mesmo com todos os dribles conhecidos, a justiça italiana investigou, acusou, julgou e condenou por evasão fiscal o ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi.

Por cá, seis anos depois da mega-fraude que levou à nacionalização do BPN e nos vai custar 10% da ajuda da Troika, ainda ninguém foi julgado;

Por cá, arrastou-se oito anos o processo que condenou um banqueiro a pagar uma multa de um milhão de euros…. mas que não a paga porque a multa prescreveu!

Não fosse a condenação do sem-abrigo e lá vinham outa vez as más-línguas queixar-se da justiça…

(texto publicado na edição de 20 de março de 2014)