Assinar

Crónica irregular: Um país em lista de espera!

As recentes notícias de pais que assassinam os próprios filhos têm vindo a levantar o véu sobre a falência das políticas de prevenção e intervenção na doença mental…

Andreia Azevedo, psicóloga clínica e investigadora na área da Depressão andreia.azevedo81@gmail.com

As recentes notícias de pais que assassinam os próprios filhos têm vindo a levantar o véu sobre a falência das políticas de prevenção e intervenção na doença mental… o desgraçado do técnico ou do familiar que vai identificando sinais e sintomas de risco, esbarra na lentidão e na incapacidade de um sistema que teima em ser de secretária (sobretudo nos processos de promoção e proteção de crianças e jovens) e regulado pela dominância do parecer médico.

Ora, o parecer médico nem sempre se apresenta parecido com o que a realidade transmite! Até porque o clínico ou não está preparado para, ou não tem tempo para a analisar… Na semana passada, o coordenador do Plano de Prevenção do Suicídio apelava para a necessidade de assegurar a formação dos clínicos gerais, sustentado pela evidência de que uma parte significativa dos suicidas recorreu ao seu médico de família no mês que antecedeu a tentativa ou a consumação do ato suicida! Acho bem… mas é necessário ainda reforçar o sistema de cuidados primários de outros técnicos de saúde mental, devidamente habilitados e com autonomia para avaliar e intervir (e asseguro que eles andam aí), e agilizar os processos de internamento compulsivo. Esses são uma autêntica vergonha; entre entrevistas e diligências, a decisão pode levar mais de um ano, à custa da segurança dos que se queixam… Enquanto se espera, sofre-se, mata-se e morre-se…

(texto publicado a 7 de fevereiro de 2013)