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Foge Comigo: Música para viajar

Não há maneira de os estrangeiros atinarem com o nome: Para eles, Leiria é “Leira” sem o “i”. Cabe ao festival Entremuralhas, que teve a sua terceira edição, colocar a terceira das vogais e os pontos nos “is”.

Pedro Miguel, voluntário do festival Entremuralhas/Outras atividades e serviços

Não há maneira de os estrangeiros atinarem com o nome: Para eles, Leiria é “Leira” sem o “i”. Cabe ao festival Entremuralhas, que teve a sua terceira edição, colocar a terceira das vogais e os pontos nos “is”.

O que num sentido figurado não deixa de traduzir que o que se está a fazer é colocar Leiria no mapa, e Portugal numa rota interessante. Aqui os papéis invertem-se: fora de portas dizem “Parece que lá fora há um festival muito bom”. O lá fora deles é o nosso cá dentro, fazendo jus ao lema do evento: “Único no mundo e aqui tão perto”.

E a cidade reage? Timidamente aparece, a crise não ajuda, e a resistência ao desconhecido faz o resto. Mas sabe quem já lá foi, que se é surpreendido.

Quanto às bandas, foi a globalização em todo o seu esplendor. Americanos que não cantam em inglês, e belgas, holandeses, luxemburgueses, suíços e dinamarqueses a cantar na língua de Shakespeare.

É um esforço enorme da associação Fade In, em parceria com a autarquia, montar o Entremuralhas, com meses de preparação, que aceleram  vertiginosamente na última semana.

Antes disso houve toda uma série de reuniões, contactos com patrocinadores, bandas, burocracias, autorizações de parte a parte, etc. Depois a montagem de som e luzes, wc, a distribuição complexa do que é que vai ser preciso para cada palco, a montagem e transporte da exposição, preparar as barracas de comes e bebes, montar as bancas para o comércio, os camarins…

Em dia de contrarrelógio da Volta a Portugal em Bicicleta, também começou a correria louca com a chegada das primeiras bandas. Horários, ligações, aeroportos, os músicos, os técnicos, quem leva quem de Lisboa a Leiria, do hotel ao castelo.Até o glamour precisa de uma folha de Excel.

Pelo ambiente de respeito entre todos e pelo património, cada edição é uma batalha ganha. A produção e os voluntários, todos amantes incuráveis de música, a troco de nada lá andam pelo orgulho de pertencer a algo que não sabem bem explicar, mas sentem que é enorme e que estão ativamente a contribuir para o desenvolvimento da região.

Há quem nem sequer assista a todos os concertos para os quais trabalha, pois sacrifica-se pela manutenção do bom funcionamento do festival.

É curioso ir buscar as bandas ao aeroporto com cartazes na zona das chegadas. Se “Rome” pode criar confusão, já “Suicide Comando” suscita a curiosidade das autoridades.

Na economia, o sector da restauração e hotelaria sai beneficiado, pois mais de 700 pessoas, a maioria de fora, têm de dormir e comer em algum lado. Alguns membros das bandas também aproveitaram e ficaram cá mais uns dias, outros tiraram fotos no aeroporto e foram felizes.

Como é normal em democracia, nem toda a gente gosta. Até aqui houve condições a que os meteorologistas chamam de “tempestade perfeita”.

Um conjunto de fatores, neste caso entre a autarquia e o know how da Fade In. Em 2013 está prevista a quarta e última edição antes das eleições autárquicas de outubro. E depois? Tudo pode mudar. Haverá sempre quem não acredite, quem tenha outra visão ou simplesmente quem diga não a tudo o que vem dos outros.

Nem pensar apelar aqui ao voto deste ou daquele, isso nunca. Apelo antes ao bom senso universal (até porque este não tem ideologia) e aguardo por muitas e mais edições em Leiria.

(Texto publicado na edição de 31 de agosto de 2012)