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Opinião: Febre Geral

Pedro Miguel deixou Leiria para trás e foi para Lisboa no 14 de novembro. Esteve na manifestação em São Bento, junto à Assembleia da República. E escreveu um texto a contar o passou e o que sentiu.

Pedro Miguel, cidadão

A Greve Geral foi um sucesso esmagador. Demonstrou que as pessoas não estão com este governo, e isso é um passo importante.

Como não acredito em estórias da carochinha, e sobretudo recuso-me a ser comentador à distância, daqueles valentes que não levantam o cú da cadeira, mas que no conforto dos seus computadores cagam postas de pescada, fui lá ontem!

Ontem perdi o respeito a muita gente, porque sei o que vi. Ganhei, no entanto, um respeito ainda maior pelo meu povo.

A primeira coisa que me apeteceu fazer quando lá cheguei a São Bento foi dar meia volta e vir embora. É que eu fui lá por causa de um país melhor e não para atirar pedras à polícia.

A ver se nos entendemos: A polícia, com todo o respeito, não me interessa para nada, tenho outras coisas mais urgentes em que pensar.

Vi com os meus próprios olhos os agitadores das pedradas. Eram Vinte? Trinta? Entre uma massa humana a perder de vista, é certo, uma minoria mas não interessa. A esmagadora maioria estava lá pacificamente, e isso é o que conta!

Depois, numa zona mais lateral, muito muito longe das pedras, ainda antes da carga principal, vi um polícia a bater num velho só porque este fotografava e se aproximou em demasia das grades, agora no chão. Fui lá e disse nos olhos do agressor que não estávamos ali por causa dele, nem contra ele, estávamos ali por um país melhor e sim, saíram-me palavrões para o ar! Processem-me.

Depois foi o descalabro que as imagens demonstram. Os da idade da pedra estavam lá, todos juntos, devidamente identificados, mas levou toda a gente, entre velhos, mulheres e crianças.

As mentiras vieram depois. A chamada “acção selectiva” da polícia foi tudo menos isso. O grupo das pedras era pequeno e a investida inicial ocorreu também a mais de 700 metros dessa área.

Os avisos para dispersar foram (se é que os houve) inaudíveis.

A caça indiscriminada a tudo o que mexe foi uma realidade. Os polícias à paisana a instigar a violência foram uma realidade. O comunicado da polícia tem imprecisões graves e omissões descaradas.

Já vos disse que a Greve Geral foi um sucesso e o país não está com este governo?

As detenções arbitrárias foram uma realidade. Os autos em branco para os detidos assinarem para poderem sair (depois acrescenta-se o que se bem entender) foram uma realidade. O acesso a advogados ser barrado a quem estava preso (alguns nem tinha ido à manifestação, veja-se bem e “selectividade” da coisa) foi uma realidade.

Somos governados por cobardes, isso já eu sabia. Hoje o Passos Coelho veio dizer que a economia vai crescer em 2014. Ora, um gajo que se engana sistematicamente nas previsões (porque será?) deve ser levado a sério?

O Cavaco elogia as forças da (des)ordem e percebe-se porquê. Ele já tinha saudades de uma coisa assim desde barbárie da ponte 25 de Abril, era o ministro da administração interna um tal de Dias Loureiro, sim, o tal ladrão, promovido a conselheiro de estado e hoje desaparecido em combate a viver dos rendimentos que todos nós estamos a pagar.

E sim, a Greve Geral foi um sucesso e o país não está com este governo

O contraditório na comunicação social é fraquinho, e resume-se ao jornalismo de secretária baseado em declarações oficiais, com comentadores que não comentam o óbvio, alegando que não lhes compete.

O óbvio é que a Greve Geral foi um sucesso! Um mar de gente não está com este governo, a polícia mente porque lhes mandam, este governo mente por revanchismo, vinte ou trinta desviados mentais não ofuscam a luta por um país melhor. E eu sei disso porque estive lá.

De isto tudo sai uma coisa boa. Irei à próxima manifestação com certeza, e sei de pessoas espancadas ontem, que irão também. Hoje e sempre! As manobras de intimidação não resultam porque, embora assustadoras no momento, são patéticas e não vencem um bem maior.

Tenho um enorme respeito pelos meus concidadãos, hoje mais ainda!