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rosto do médico psiquiatra Sérgio Martinho

Sérgio Martinho

Psiquiatra

serg.m.martinho@gmail.com

Exclusivo

O baptismo de Jesus

A populaça não pode ver nada, junta-se logo em massa para gerar gravidade suficiente e retardar a ousadia dos visionários. Lamentável.

João, o Baptista, não era meigo para os saduceus e, muito menos, para os fariseus; esses positivistas jurídicos da conveniência. Da santa boca de João, as invectivas não se filtravam por delicadezas e demoravam-se em animais sinuosos, de índole venenosa. Víboras era o mais simpático que conseguia, porque não se lembrava de lhes chamar alguma coisa pior. Agora, queriam a água do Jordão nas têmporas e, claro, um bom homem não nega água a ninguém; mas, por muito bom que seja um homem, ele continua homem e, intuindo a oportunidade de uma alfinetada certeira, é difícil eliminar da cabeça esse apetite mesquinho que, já concretizado em verbo, principia pelo advérbio afinal, seguido de reticências. Punir por um juízo problemático ainda é punir. E punir é sempre ter algo a mais. E ter algo a mais é sempre um acrescento na propriedade. E a propriedade é, como se sabe, um direito divino. Portanto, logicamente, punir é mais uma maneira de ser deus. E deus é um pouco como uma casa-de-banho: não importa quão próximo se está dela; quando a urgência é muita, nunca se está perto o suficiente.