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Helena Vasconcelos

Médica | hml.vasconcelos@gmail.com

O meu diário: Avante Camarada

É só palhaçada! Mas palhaçadas a quererem mostrar que são sérios e que se importam. Não percebo porque é que o poder autoriza esta festa, e ainda menos porque raio a CDU e seus amigos querem a festa. Pode ser aquela convicção que mais vale falarem mal de nós do que nos ignorarem. Não sou simpatizante da CDU mas confesso que simpatizo com algum sentido ético que os militantes do partido parecem transmitir. Sempre achei que eram menos corruptos, menos permeáveis a cunhas ou a jogos de boys. Pelos vistos, não. Nova desilusão, depois de Ricardo Salgado, que eu via como o representante do verdadeiro jet-set português, agora também os comunistas. Perdoem-me uns e outros a comparação, que vem talvez a despropósito mas não deixam de se encaixar na gaveta das desilusões. Ficam assim arrumadinhos lado a lado. Não por ser particularmente fã de nenhum, mas por me terem conseguido enganar durante algum tempo.

Há um claro conflito de interesses entre os camaradas e os profissionais de saúde. Os camaradas querem festas, mas nós não queremos COVID. Festas com mais de 20 estão proibidas, mas aí 20 000 já são permitidas. Vão conseguir meter aquela camaradagem toda no recinto sem riscos acrescidos e importantes para a saúde pública? Qual é o interesse? Apoiar a cultura e desapoiar o SNS? Já não falando nas vítimas, que parecem que nunca são o centro do problema. Não querem passar despercebidos, é isso?

Devo ser mesmo burra porque, por mais voltas que dê ao cérebro, não consigo vislumbrar uma razão válida para levar até ao fim esta teimosia. E que diabo de influência têm no governo e na DGS que parece ter medo deles.

Resta-me pedir aos camaradas que fiquem em casa e não se metam em confusões por causa de uma birrinha dos dirigentes. Sejam responsáveis e não embarquem em manias da perseguição. O COVID é apartidário e corta a direito sem poupar ninguém, sem discriminar pela cor da pele, opção religiosa ou política.

Avante camarada, avante. Junta a tua à nossa voz… Juntem as vozes, mas separem os corpos, por favor.

(Artigo publicado na edição de 3 de setembro de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)