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Partilhando: Entre o hijab e a minissaia

Foi curioso ouvir diversos idiomas e estar de gorro na cabeça, entre jovens de burca, mulheres que cobriam a cabeça de véu e adolescentes de minissaia, num dia de inverno muito frio.

Cristina-barros
Cristina Barros, professora do IPLeiria e presidente da Incubadora D. Dinis cristinabarros.rl@gmail.com

No âmbito de um projeto europeu sobre empreendedorismo, que envolve nove países, tive a oportunidade de viajar recentemente até à Turquia, à vila de Göreme e à cidade de Nevsehir, na região da Capadócia, e a Istambul, para sessões de trabalho na Universidade de Nevsehir e na Incubadora de Empresas da Universidade Técnica de Istambul.

Foram seis dias intensivos, num país de 75 milhões de habitantes, maioritariamente muçulmano, que me fascinou pela sua multiculturalidade, pelos locais e paisagens, pela gastronomia e, principalmente, pelas pessoas.

Fiquei estarrecida com a beleza da região da Capadócia, típica pelas casas nas rochas de cor rosa e vermelha, pelos seus famosos vales e planícies, que percorremos tanto em balão de ar quente como a correr de madrugada e a fazer longas caminhadas.

Em Istambul, regressei à Mesquita Azul pela sua beleza. No Grand Bazaar, bebemos chá com os vendedores enquanto esperávamos pelos fatos de Sultanas que tinha prometido às minhas filhas. Os vendedores acharam estranhíssimo duas senhoras, sozinhas, a viajar sem homens e sem qualquer medo. Nas galerias do Palácio de Topkapi, foi curioso ouvir diversos idiomas e estar de gorro na cabeça, entre jovens de burca, mulheres que cobriam a cabeça de véu e adolescentes de minissaia, num dia de inverno muito frio.

Pessoalmente, tinha curiosidade em perceber o papel da mulher num país onde a religião recomenda a utilização do hijab, costume que pode ir desde o véu, que cobre simplesmente a cabeça, à burca, na qual apenas se veem os olhos. O hijab foi decretado para proteger a modéstia e honra das mulheres, pois Deus, o Altíssimo, diz no Alcorão Sagrado: “Ó profeta, dizei a vossas esposas, vossas filhas e às mulheres dos crentes que quando saírem que se cubram com as suas mantas; isso é mais conveniente, para que se distingam das demais e não sejam molestadas; sabei que Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo”.

Em Göreme, a gerente do hotel explicou que as mulheres mais conservadoras usavam véu e as “mais modernas” já não o usavam e dificilmente cumpriam o Ramadão. Devo confessar que fiquei orgulhosa por saber que a universidade pública de Nevsehir, com cerca de 3500 estudantes, era liderada por uma reitora.

Vim com a certeza da crescente importância do papel da mulher, nos diversos setores de atividade, e foi absolutamente enriquecedor estar entre o hijab e a minissaia.

(texto publicado na edição de 20 de fevereiro de 2014)