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José Manuel Silva

Professor/gestor do ensino superior | jmsilva.leiria@gmail.com

Passageiro do tempo: Liberdade individual e responsabilidade social

Muitos portugueses não percebem que as suas ações, supostamente um direito que lhes assiste, provocam consequências que estão muito para além do próprio.

Os portugueses não são todos iguais, mas uma coisa em que somos férteis é em colocar os interesses individuais acima dos coletivos e em ter pouco sentido de comunidade.

Podia contar muitos episódios que o comprovam, mas vou apenas citar um que sempre me impressionou. Em tempos plantaram-se árvores num bairro de Leiria onde não havia nenhuma. Uma vez plantadas era necessário regá-las. Sugeriu-se que cada prédio regasse a árvore fronteira. Nem pensar, isso era obrigação da Câmara, clamaram os moradores, mas em muitos países são estes que cuidam destas coisas.

Agora coloca-se em causa a obrigação de distanciamento social e fazem-se festas e ajuntamentos sem respeito pelos próprios e, sobretudo, pelos outros e pelas consequências de saúde, sociais e económicas dos atos individuais. E é aqui que bate o ponto.

Muitos portugueses não percebem que as suas ações, supostamente um direito que lhes assiste, provocam consequências que estão muito para além do próprio; por exemplo, se alguém resolve beber para além dos limites e tem um acidente, não está apenas a atentar contra si, está a pôr em causa o direito à segurança dos outros e a contribuir para aumentar a despesa pública por via das eventuais consequências de saúde para si ou terceiros e impactos no SNS.

É o que se passa com o desrespeito pelo distanciamento social e outras medidas preventivas contra a Covid-19, mas é também o que acontece com o consumo do tabaco, a alimentação irracional, a não realização de exercício físico, enfim, tudo o que prejudica a saúde individual e agrava os custos do SNS e a produtividade das empresas e serviços públicos. As seguradoras já perceberam, e a comunidade? Vamos todos continuar a pagar os custos da irracionalidade alheia? A responsabilidade social tem de estar acima da liberdade individual.

(Artigo publicado na edição de 25 de junho de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)