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foto de rosto a preto e branco de José Manuel Silva

José Manuel Silva

Professor, gestor educacional, consultor

jmsilva2350@gmail.com

Exclusivo

Passageiro do tempo: Monte negro

É isto que faz medrar os chamados
“populismos”.

O ciclo político iniciado com o golpe militar de 25 de abril, rapidamente transformado numa autêntica
revolução popular, está à beira do esgotamento, apesar de os principais atores políticos fingirem que não percebem e de a população, em geral, estar mais preocupada com a inflação e a perda do poder de compra do que com alternativas políticas.

O país vive com uma Constituição datada que, como um fato de noivo que passado meio século já não serve ao dito, nada tem a ver com a realidade atual e embora nos digam que não é por causa dela que o país não se desenvolve, é por causa das ideias que nela se plasmaram em 1976 que continuamos a marcar passo.

A Constituição não tem culpa, ela continua fiel a si própria, o modelo que a inspirou é que se tornou obsoleto, como todos os dias se testemunha nos mais variados setores da sociedade portuguesa que evoluiu e se comprime sob um regime que atrofia o desenvolvimento, fomenta a rapina dos que em nosso nome dominam a coisa pública, faz descrer da classe política, do atual sistema de governo e da possibilidade de regeneração sem um abanão profundo que mude o rumo para o futuro.

Vivemos numa espécie de realidade virtual que não encontra paralelo na vida diária, é como noutros tempos em que nos cinemas eram passadas as “atualidades”, produzidas pelos serviços de informação governamentais, em que se mostrava um país feliz, multirracial e a progredir, tudo ao contrário da realidade que se vivia na rua.

E é aqui que reside o maior equívoco político dos tempos presentes, o problema não são os atuais partidos e as suas lideranças, é o cerne do nosso sistema político, são os fundamentos do Estado atual e é isto que faz medrar os chamados “populismos”, que funcionam como a válvula de escape do descontentamento acumulado e, ou se age a tempo, ou corre-se o risco de a torrente se tornar imparável.