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reXistência: Ideias perigosas

O recurso às deslocações de automóvel já esteve muito mais longe de se vir a tornar quase um luxo.

Cláudia Oliveira, assessora de imprensa do BE/Parlamento Europeu rexistencia.co@gmail.com

É difícil de entender que um município queira concessionar a exploração dos parques de estacionamento a privados. Não é preciso ser economista ou gestor para saber que nenhum privado investe num negócio que não julgue ser minimamente rentável. Ninguém tem ilusões que não é o altruísmo que os move.

Assim sendo porque não procede o próprio município à gestão e exploração dos próprios estacionamentos, obtendo desse modo algum retorno para o investimento das verbas públicas?

Mais incompreensível do que isto, só mesmo o facto de continuarem a crescer os parques e parqueamentos pagos sem uma contrapartida de oferta de transportes públicos. Uma rede de transportes que seja efetivamente uma opção, em termos de regularidade e abrangência dos horários e da conceção dos trajetos. Além de todas as considerações de carácter ambiental e de ordenamento do território que possamos fazer, há uma questão de ordem económica cada vez mais premente nesta necessidade.

À medida que a crise se intensifica, à medida que as políticas do Governo nos conduzem a um empobrecimento desmesurado, com todas as inerentes consequências, as pessoas precisam de alternativas reais que lhes permitam continuar a deslocar-se para os diversos locais que fazem parte dos seus quotidianos.

O recurso às deslocações de automóvel já esteve muito mais longe de se vir a tornar quase um luxo.

E se, à semelhança do que existe em tantas outras cidades europeias (cada vez mais), fosse criada uma rede municipal de bicicletas? Não é complicado! As bicicletas que circulam em várias dessas cidades, por exemplo Paris, são construídas em Portugal. Existem vários pontos espalhados estrategicamente por toda a cidade. Basta recolher um bicicleta junto do ponto de partida e devolvê-la no ponto mais próximo do nosso destino. A ideia é que as pessoas devolvam as bicicletas logo que terminem os seus percursos de modo a permitir que outros as utilizem. Há passes anuais, há bilhetes diários, há bilhetes semanais e até há cidades que as disponibilizam gratuitamente. As soluções são múltiplas. As condições para circular de bicicleta já existem numa parte da cidade, e não seria complicado criar mais ciclovias.

Mais importante do que continuarmos a planear cidades que fomentam a utilização dos automóveis ou que dependem dela, é planear que possam oferecer aos seus habitantes opções e alternativas.

Já imaginaram como seria muito mais agradável ir de bicicleta amanhã para a manifestação contra a troika?

(texto publicado a 12 de outubro de 2012)