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José Vitorino Guerra

Tempo incerto: “A pisar o risco”

No dia 24 de Julho, o presidente Gonçalo Lopes apresentou a iniciativa “Leiria Regressa 2.0” para incentivar o uso de máscara facial, rodeado de automóveis caracterizados para serem similares aos da PSP. Os veículos, cedidos por empresas privadas, destinam-se a “servir de sentinelas de patrulhamento”. A tripulação, com uniforme próprio, será constituída por elementos dos Bombeiros Municipais, do Teatro José Lúcio da Silva e da equipa de prevenção da Praia do Pedrógão. Gonçalo Lopes classificou-os “como se fossem polícias anti-covid”, algo “muito próximo de uma polícia municipal”. Segundo o Região de Leiria, o autarca justificou a caracterização das viaturas e os uniformes dizendo que, “sendo um assunto sério tem de ter uma imagem de alguma autoridade. Isso está na adoção (da decoração) dos carros e da vestimenta.”

Os jornais nacionais divulgaram a criação de uma “polícia anti-covid” em Leiria e a RTP difundiu uma reportagem com a legenda “polícias anti-covid”, tendo o repórter afirmado: “fazem patrulhas por todo o concelho”(…), “abordam directamente as pessoas quando as normas não estão a ser cumpridas”. Um dos “agentes” esclareceu: “se for necessário, se virmos um grupo, um aglomerado assim mais numeroso podemos fazer isso.” Gonçalo Lopes fundamentou a iniciativa na duplicação de casos de covid num período de 60 dias, o que permite uma ideia errada da situação que se vive em Leiria.

No dia 26, Gonçalo Lopes recuou nos aspectos mais infelizes das suas declarações anteriores e veio dizer que “se trata apenas de uma campanha de sensibilização e os seus agentes não são polícias. Não vão impor nada nem obrigar a nada.” Esqueceu-se de dar a conhecer a legislação que lhe permite a intervenção anunciada, o uso de carros privados com características similares aos da PSP e o suporte legal para os seus “agentes” uniformizados intervirem na via pública. Também nada disse sobre quem assume eventuais responsabilidades! E para ajudar ao evento, arranjou actores que “vão estar vestidos como médicos e enfermeiros”, interagindo com a população a passar “receitas” de forma cómica para (incentivar) o uso de máscaras”. Tudo uma “feira de enganos”, desprestigiante e sem dignidade institucional.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(Artigo publicado na edição de 30 de julho de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)