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Leiria

Ordem dos Médicos do Centro denuncia “calamidade” no serviço de urgência do Hospital de Leiria

A Secção do Centro da Ordem dos Médicos denuncia “calamidade” no serviço de urgência do Hospital de Santo André, enquanto o Centro Hospitalar de Leiria refere ter registado uma afluência “atípica e não previsível” no último fim de semana. Em três dias, atendeu 1.761 utentes, sendo que 41% eram “não urgentes”.

Ordem dos Médicos exige medidas concretas ao Ministério da Saúde e pede mais recursos humanos e mais condições para a Urgência  Foto de arquivo

A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) denunciou hoje o que considera ser uma “calamidade” no serviço de urgência do Hospital de Santo André, em Leiria.

“Os doentes são colocados na sala de espera sem as mínimas condições” e “muitos outros nem em 12 horas são atendidos”, refere em comunicado, classificando a situação como estando “à beira da rutura”.

“Os casos são de tal forma graves que estão a chegar à Ordem dos Médicos várias dezenas de declarações de responsabilidades em que os médicos denunciam, com detalhe, as situações de extrema gravidade”, acrescenta a SRCOM na mesma nota.

“Na especialidade de Medicina Interna, por exemplo, a Ordem dos Médicos já recebeu mais de 50 declarações. Exigimos medidas concretas ao Ministério da Saúde para sanar esta calamidade. São necessários mais recursos humanos, mais condições para a Urgência”, apela o presidente da Secção, Carlos Cortes.

Nas situações reportadas em janeiro, “há casos em que três especialistas e dois médicos internos de Medicina Interna recebem, na passagem do turno da urgência, mais de 80 doentes, muitos dos quais sem avaliação médica durante mais de 12 horas, tal a avalanche de doentes e os desajustados recursos humanos”, frisa ainda.

“Mais grave ainda é que, nestes casos, a mesma equipa médica está também de apoio aos doentes internados da Medicina Interna e apoio a todas as urgências das restantes especialidades do internamento (excetuando Pediatria)”.

“Por não estarem asseguradas as condições mínimas de acolhimento aos doentes no serviço de Urgência do Hospital de Santo André”, a Ordem exige ao Ministério da Saúde “que possa adequar a estrutura do hospital à sua área de influência e que atribua os recursos humanos e financeiros à verdadeira realidade desta instituição vital para a região”.

“Se nada for feito, a cada dia, é mais um acumular de riscos para os doentes”, reitera Carlos Cortes.

Carlos Cortes adianta que “todos os casos que estão a chegar à Ordem dos Médicos são do conhecimento do Conselho de Administração e da Direção Clínica do Centro Hospitalar de Leiria (CHL)”.

“Esta situação está a passar a linha vermelha, há camas e macas por todo o lado, é desumano o que está a acontecer no Hospital de Santo André”, denuncia.

 

Dos 1.761 utentes atendidos na  urgência, 41% eram não urgentes

Na quarta-feira, o CHL informou ter atendido 1.761 utentes na urgência do Hospital de Santo André no último fim de semana e na segunda-feira, dando ainda conta que 41% não eram urgentes (pulseiras verde e azul) e que por isso não necessitavam de acorrer àquele serviço.

Em comunicado, referiu que já tinha sido possível ultrapassar as dificuldades criadas por um elevado afluxo de doentes naqueles três dias apesar de continuar a registar uma elevada procura nos serviços de urgência.

Salientando que em 24 horas o CHL conseguiu “garantir a estabilização do funcionamento dos serviços, mesmo que ainda sobrecarregados”, o Conselho de Administração (CA) explicou que a afluência às urgências, “situação, atípica e não previsível, implicou um grande afluxo de doentes num curto espaço de tempo”, o que “acontece esporadicamente neste e noutros serviços do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.

O hospital recordou que o Plano de Contingência foi ativado a 9 de janeiro, perante o cenário de epidemia gripal, medida que considera ter sido “efetiva na resolução das dificuldades relacionadas com o acesso elevado às urgências, nomeadamente com o reforço das equipas, com profissionais disponíveis, empenhados e dedicados”.

“Recorde-se que as urgências do CHL, especialmente o SUG do HSA, são a única porta aberta nas 24 horas do dia em todo o fim de semana e, somando uma segunda-feira em que o serviço recebeu muitas pessoas em pouco tempo, criou-se um pico extraordinário que só medidas excecionais permitiram ultrapassar. Essas medidas foram tomadas e, ainda que com algumas demoras no atendimento, face ao volume momentâneo e excessivo de doentes”, lê-se ainda no comunicado.

O CA do CHL reitera a “necessidade da colaboração de todos os intervenientes na rede de cuidados, e também dos utentes, para que as urgências hospitalares sejam usadas de forma correta”.

Na segunda-feira, as macas de diferentes corporações retidas no hospital de Santo André deixaram dezenas de ambulâncias inoperativas, sem possibilidade de fazerem socorro, disseram à agência Lusa algumas corporações de bombeiros.

Centro Hospitalar de Leiria alerta os utentes para recorrerem às urgências de forma correta Foto de arquivo

“Com um volume de doentes que foi crescendo e agravando ao longo do fim de semana e no dia de segunda-feira, as urgências do CHL atingiram valores de mais de 500 atendimentos diários, passando de 521 utentes no sábado, para 658 utentes” na segunda-feira, revelou o CHL.

O Serviço de Urgência Geral (SUG) do HSA, no total dos três dias, “recebeu 241 ambulâncias, sendo que, destas, 7,5% não vinham referenciadas pelo CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes]”, refere o comunicado.

“Dos doentes que chegaram em ambulâncias do INEM, 25% eram pouco urgentes ou não urgentes. Registou-se também que 67,5% dos utentes acorreram ao SUG do HSA o fizeram de forma autónoma, por meios próprios, o que é uma percentagem excessiva face às características destes serviços”, acrescentou o Conselho de Administração.

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