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Cultura

Dez anos de Hádoc porque “nem tudo se consegue expressar em vídeos de dois minutos”

A mostra de cinema documental da associação ecO resiste à pandemia para mostrar a Leiria outras perspetivas da realidade. Até junho há sete filmes criteriosamente selecionados para passarem no Teatro Miguel Franco.

Os cinemas reabriram segunda-feira e hoje, terça, corre o pano para a décima edição de Hádoc, ciclo de cinema documental que a associação ecO programa para Leiria há uma década.

Em 2021 são sete filmes no Teatro Miguel Franco, entre 20 de abril e 22 de junho. A abrir o Hádoc 2021 há “A utopia americana de David Byrne”, de Spike Lee. Toda a produção, trailers e outra informação estão no site oficial, em www.hadoc.pt.

Nuno Granja, um dos programadores da mostra de documentários, respondeu ao REGIÃO DE LEIRIA a propósito desta edição, a segunda em tempo de pandemia. E explicou porque é ainda mais importante a difusão do documentário no contexto em que vivemos.

Concretizar esta décima edição de Hádoc tem um gosto especial?
O Hádoc é um projeto realizado sempre com muito empenho e motivação, por isso cada edição tem um gosto especial, à partida. Todas as edições são muito diferentes entre si, no sentido em que trabalhamos com cinema documental. O documental tem um efeito multiplicador do impacto que a arte cinematográfica potencia, principalmente pela atualidade e pela proximidade ao indivíduo. O Hádoc 2021, além disso, é especial por dois motivos adicionais: primeiro por chegarmos à marca “redonda” de dez edições, que é sempre um feito; e segundo por conseguirmos não interromper a regularidade, mesmo em tempo de pandemia.

Há algum critério especial na seleção dos filmes a exibir este ano?
O “guião” para a construção do programa do Hádoc passa, invariavelmente, por conseguir selecionar sete filmes que abranjam um leque variado e interessante de temas, sem nunca comprometer a sua qualidade em prol dessa diversidade. É algo mais complicado do que se supõe, quando pensamos num número relativamente limitado de filmes a incluir no programa final. Temos sempre interesse em exibir filmes com um valor artístico, social, político ou cultural que se demarquem da média, mas o critério fundamental é que a equipa de programadores indique filmes que de alguma forma os afetaram emocionalmente. É esta a bitola para incluir determinado título na seleção, mais do que qualquer prémio ou nomeação. Não queremos que o público saia da sala indiferente. Há filmes que não conseguimos incluir no programa quando são lançados, mas que consideramos importante apresentar no âmbito do Hádoc. É o caso do “Bostofrio”, que sendo um filme de 2018, tem visto a sua exibição no nosso festival a ser adiada pelos mais diversos motivos.

Esta é a segunda edição em pandemia. As limitações desta edição são semelhantes às do ano passado?
Sensivelmente as mesmas. Se, por um lado, conseguimos manter as datas originalmente previstas (a edição do ano passado teve de ser adiada para outubro/novembro), por outro vemo-nos forçados a alterar o horário (para as 19h30). Em termos práticos, as medidas sanitárias, em sala, serão as mesmas a que todos já nos habituámos, por força da pandemia. Em termos de programação sentimos também resistência de algumas distribuidoras em avançar com estreias, dada a instabilidade de todo o panorama cultural.

Que resposta esperam do público neste regresso às salas de cinema?
Contamos, sinceramente, com uma resposta bastante positiva. O regresso às salas de cinema e de teatro pode ser feito com confiança e em relativa segurança se as medidas sanitárias forem implementadas com rigor. Existem um desejo e uma necessidade de voltar a uma “normalidade possível”. A sala de cinema é, curiosamente, um espaço que concilia de forma natural a socialização e a introspeção. Estaremos longe de retomar o que era habitual, antes destes tempos conturbados, mas contamos com a adaptabilidade do público.

A função do documentário é ainda mais relevante no contexto atual?
Absolutamente! O cinema documental é uma ferramenta poderosíssima ao nível da comunicação. Mais do que o contexto pandémico, é o contexto social em que vivemos que nos coloca grandes desafios. O próprio registo informativo é muitas vezes limitado, e o cinema documental permite somar uma componente artística e pessoal à forma como é veículada uma determinada (visão da) realidade. Cada vez mais o excesso de informação e o imediatismo são obstáculos à formação de uma opinião informada, mas há determinados meios que têm essa capacidade de permitir formar um entendimento (racional ou emocional) de um tema ou situação. O documentário é, por excelência, um desses meios. Como noutros casos, a apreensão da informação não é, no entanto, imediata. Exige envolvimento e tempo. Essa é uma situação que continua a ser desafiante, nos tempos em que vivemos porque nem tudo se consegue expressar em vídeos de dois minutos.

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