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Saúde

Faltam mais de 50 médicos especialistas no hospital de Leiria, diz Ordem dos Médicos

Falta de recursos humanos pode levar a falhas na resposta dos serviços do Centro Hospitalar de Leiria no período de inverno.

O cenário é “gravíssimo” e poderá piorar nos próximos meses, com a chegada do inverno.

A denúncia é da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), que hoje reuniu com o Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) e deu conta de que faltam mais de 50 médicos especialistas para conseguir responder com eficácia aos utentes que ali acorrem.

“O problema do hospital de Leiria não é um problema de hoje, não é um problema atual. É um problema que já tem muitos anos, e que a Ordem dos Médicos teve a oportunidade de, na altura, denunciar e chamar a atenção do Ministério da Saúde”, afirmou Carlos Cortes, presidente da SRCOM, após a reunião com o CA do CHL, onde também estiveram presentes Rui Passadouro, Presidente da Sub-região de Leiria da Ordem dos Médicos, António Menezes, do Colégios de Cirurgia, Arsénio Santos, do colégio de Medicina Interna, Salvato Feijó, diretor clínico do CHL, bem como os diretores dos serviços de Urgência, Ortopedia, Medicina Interna e Cirurgia.

“O que nos foi transmitido é que existe um défice de recursos humanos médicos gravíssimo, mais de 50 médicos especialistas, tendo em conta que o CHL tem um total de 269 médicos especialistas. Este é um número absolutamente impressionante e que já se faz sentir em várias especialidades. Além das especialidades sobretudo da Urgência – medicina interna, cirurgia e ortopedia -, com um défice muito importante de especialistas, também outros serviços, como a ginecologia-obstetrícia”, realçou o responsável da OM.

O problema, segundo Carlos Cortes, “tem vindo a agravar-se nos últimos anos e o hospital de Leiria tem tido imensas dificuldades na contratação de recursos humanos, sobretudo médicos”.

“Se o Ministério da Saúde não tem aqui uma atenção, não vier a este hospital para ver as dificuldades que está a atravessar e não resolver rapidamente esta falta de recursos humanos nós esperamos o pior para este hospital. Este hospital é um exemplo paradigmático do que está a acontecer em todo o SNS. Este hospital está a atravessar uma crise muito grande, na resposta aos doentes, e a ministra da Saúde não pode num dia elogiar, e bem, o SNS porque tem uma grande resposta na Covid-19, mas depois não dar os instrumentos, os recursos necessários, para os hospitais funcionarem no dia a dia”, salientou.

“Estamos a entrar no período do frio, do inverno, onde muitas pessoas vão descompensar das suas patologias, vão necessitar do serviço de urgência e posso-vos dizer que o hospital de leiria, se nada for feito pelo Ministério da Saúde, terá muitas dificuldades em dar uma resposta adequada, de qualidade e com segurança dos doentes que se dirigem ao serviço de Urgência”, concluiu.

No início do mês, o hospital de Leiria viveu dias em que não teve médicos escalados para responder às necessidades no serviço de urgências. A situação abrange várias especialidades.

“Diariamente recorrem a esta Urgência 350 utentes, é um impacto muito grande. Na ortopedia, por vezes não há médicos escalados, há situações com um único ortopedista. Há uma enorme dificuldade em haver escalas com o número adequado de cirurgiões, aliás, nunca tem. Além dos doentes que tratam em serviço de Urgência, [os médicos] têm que atender a todos os doentes internados e há uma sobrecarga de trabalho, que é impossível de aguentar nos próximos meses”, adiantou o presidente da SRCOM.

Com uma abrangência de 400 mil utentes, o Centro Hospitalar de Leiria tem unidades em Leiria, Alcobaça e Pombal.

“A resposta do SNS é dada neste hospital com grande qualidade dos seus profissionais. Sem recursos humanos não se podem fazer milagres”, lamenta Carlos Cortes, em declarações aos jornalistas.

Pneumologista alerta para aumento de doença viral com retirada das máscaras

O diretor do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), Salvato Feijó, alertou hoje para um possível aumento de doença viral, com a retirada das máscaras, e acrescentou que “se isso acontecer no período do inverno”, irá “ter um aumento de afluência [nas urgências], que será muito comprometedora para uma estrutura que já está, muitas vezes, a jogar nos limites”, como é o caso do Serviço de Urgência do hospital de Leiria.

“Há um medo que tenho, porque sou pneumologista, que se a retirada das máscaras for generalizada, vamos ter um aumento de doença viral difusa ao nível do país”, afirmou Salvato Feijó, também diretor clínico do CHL, que hoje reuniu com o presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos, devido à escassez de profissionais de saúde nas urgências do hospital de Leiria.

“Esperemos que isso não aconteça. Ninguém sabe bem, mas as máscaras quanto a mim vão ter um papel muito preponderante”, reforçou, recusando que a situação nas urgências do Hospital de Santo André seja “gravíssima”, como referiu o presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.

Para Salvato Feijó, trata-se de um “problema grave”. “Tivemos apenas um único episódio excecional em que não tivemos médicos ortopedistas durante um período de 12 horas. Estamos a colmatar isso com recurso a médicos contratados. Neste momento, estamos a conseguir gerir, não da maneira que gostaríamos, mas da maneira que é possível, neste momento”, acrescentou.

O diretor clínico lembrou ainda que a urgência de Leiria tem “uma área de influência de 400 mil habitantes, tem uma elevada procura, tem doentes muito graves e, portanto, não são aqueles que vêm com uma dor e vão embora”.

“São doentes mais complicados, cheios de comorbilidades, atendendo também ao envelhecimento da população desta região, e põem-nos certos problemas”, constatou, revelando que têm sido os médicos do quadro quem tem ajudado a completar a escala, quando os profissionais de saúde contratados a empresas externas não comparecem ao serviço.

O médico reconhece, contudo, que é um “esforço muito extra, porque já todos estão com horas extraordinárias em grande quantidade” e admitiu que é uma situação em que se “tapa de um lado e destapa do outro”.

Salvato Feijó revelou que a criação de uma equipa fixa para o serviço de urgência, em julho, melhorou o atendimento. “Contratámos 12 médicos generalistas e conseguimos ter uma mancha durante o dia, entre as oito da manhã e as oito da noite, aos dias de semana, completamente coberta e bem coberta. Só que aos fins de semana e durante a noite temos as fragilidades de que estávamos a falar. É aí que temos que optar por um esforço individual dos nossos médicos e que normalmente é um esforço individual e supletivo, com grande custo da sua vida familiar e pessoal”, constatou.

O diretor clínico afirmou ainda que o Ministério da Saúde “está a ter uma atenção particular a estes aspetos, até porque o sistema nacional de saúde está a mostrar algumas fraturas que são exemplo indicativo daquilo que poderá vir a ser cada vez mais grave, à medida que o envelhecimento também da população médica se vai dando”.

Com Lusa


Secção de comentários

  • Susana Martins disse:

    Falta de médicos, porque ganham mais a fazer consultas como/nos privados.
    falta sim existe de de auxiliares de saúde que são contratados como assistentes operacionais para poderem exercer todo o tipo de serviço desde limpeza até apoio ao utente… Em que no contrato tem de fazer referência ao teremos de auxiliar as enfermeiras. Isso vocês não comentam, porquê?
    Somos a classe baixa do hospital???
    A ganhar o ordenado mínimo e obrigados a fazer 40 horas semanais em vez das 35 e com 1 folga.

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