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Guerra na Ucrânia – Evitar a próxima crise sanitária na área da saúde mental

O médico Rafael Henriques aponta algumas estratégias para minimizar o impacto que o conflito tem “em cada um de nós, enquanto telespetadores passivos”


Rafael Henriques
Médico de Medicina Geral e Familiar
Leiria

A agressão perpetrada pela Federação Russa à Ucrânia, num ato vil e desumano, abalou o ambiente de paz trazido com a construção do projeto europeu.

A grande novidade que esta guerra nos apresenta em relação a outras é a sua omnipresença nos meios de comunicação social e nas redes sociais, hoje em dia ubiquitárias, umas autênticas pequenas janelas sempre escancaradas de onde se enxerga o que está a acontecer a todo o momento, bastando para isso um simples clique.

Não havendo qualquer equiparação com o drama de quem vive a guerra de forma direta, não se pode menosprezar o seu impacto em cada um de nós, enquanto telespectadores passivos. Concretamente, refiro-me ao seu efeito ansiogénico e depressivo.

Naturalmente, cada ser humano é único, com limiares de sensibilidade e experiências de vida próprias e, necessariamente, com estratégias de coping variáveis. Mais, não se pode alienar o historial de crises que se tem vivido, e todas elas urgentes – a pandemia Covid-19, a urgência climática, a crise energética, a económica, a social… Enfim, elas sucedem-se, sem intervalos higiénicos, não permitindo um necessário descanso sanitário.

Não havendo qualquer equiparação com o drama de quem vive a guerra de forma direta, não se pode menosprezar o seu impacto em cada um de nós, enquanto telespectadores passivos

Não se perspetivando um fim da guerra para breve, tem que se antever o eventual efeito da exposição prolongada ao sofrimento difundido por parte dos meios de comunicação social, particularmente os noticiosos, que transmitem ad nauseam informações, por vezes, repetitivas e, frequentemente, sem espaço para uma discussão amena, num claro sequestro da mente para um estado de alarme e anedonia. Além disso, tem o efeito perverso de entorpecimento, banalizando a dor de quem mais sofre.

Portanto, é oportuno enumerar algumas estratégias para minimizar o impacto deste fenómeno:

  • colaborar proativamente com instituições de solidariedade locais;
  • desligar as notificações automáticas dos dispositivos móveis;
  • definir horários de blocos noticiosos específicos para atualização informativa;
  • se houver crianças no agregado familiar, providenciar tempo para explicar o que está a acontecer, em linguagem simples e adequada;
  • não descurar momentos de lazer; manter programas e atividades rotineiras com amigos e familiares;
  • para quem a fé é um aspeto importante, falar com o seu sacerdote;
  • por fim, e se necessário, contactar os serviços de saúde, como a Linha de Saúde 24, o seu médico e/ou enfermeiro de família, psicólogo, ou, alternativamente, linhas de apoio psicológico criadas localmente.

Para uma saúde plena, a saúde mental é condição essencial.

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