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SOS Ucrânia

Receitas com sabor a casa numa Páscoa diferente

Longe da guerra e de alguns entes queridos, deslocados ucranianos celebraram a Páscoa na Rebolaria, Batalha. O REGIÃO DE LEIRIA acompanhou o almoço, que serviu de conforto para muitos.

Cerca de 29 ucranianos (13 crianças e 16 adultos) estão alojados, desde março, na sede do rancho Rosas do Lena, na Rebolaria, concelho da Batalha

É a estreia de Daniel Oliveira, do Porto, na celebração da Páscoa ortodoxa ucraniana, e é também o primeiro contacto com os deslocados que estão alojados na sede do Rancho Folclórico Rosas do Lena, na Rebolaria, concelho da Batalha.

Mas o à-vontade é evidente. Quando chegamos à sede do rancho pouco depois das 13 horas de domingo, dia 24, Daniel Oliveira está na rua a jogar à bola com algumas crianças. O diferente idioma não é impedimento nem deixa nenhuma das partes constrangidas. Para participar na brincadeira, é só preciso estar bem disposto.

Dentro da casa principal das instalações, várias mulheres estão reunidas na cozinha numa azáfama constante, entre preparar a comida e pôr a mesa para mais de 20 pessoas, na divisão ao lado.

Apesar do contexto de guerra que levou os 29 ucranianos (13 crianças e 16 adultos) a rumar à Batalha, o dia vai de alguma forma animado. É que se trata do almoço de Páscoa, para o qual todos contribuíram com uma receita da terra natal (na igreja ortodoxa ucraniana, a Páscoa celebra-se de 23 para 24 de abril).

Holubtsi (carne picada envolta em couve repolho), deruny (panquecas de batata), chuba (peixe cru salgado com legumes por cima) são alguns dos pratos servidos. Há também tarte de curgete, um prato semelhante à salada russa confecionada em Portugal, os tradicionais pêssankas (ovos cozidos pintados à mão) e claro, o paska (bolo de Páscoa).

A animação também não faltou com Valentin Zaits no teclado e Daniel de microfone na mão. Valentin e a esposa Olga vivem há mais de 20 anos na Batalha e têm ajudado as famílias que ali estão alojadas. Segundo Olga, já quase todos estão empregados e boa parte das crianças frequenta a escola. Apenas os mais novos ainda não estão inseridos nos infantários, por falta de vaga.

Neste local de acolhimento temporário, residem também casais reformados e a pessoa mais velha tem 75 anos. Estão alojados na Rebolaria desde meados de março, mês em que Luís Prates e a esposa Lina Kulakova conseguiram arranjar um autocarro e quatro carrinhas para se fazerem à estrada e resgatar refugiados em Medika, na fronteira com a Polónia.

Dos 58 que trouxeram, 20 ficaram na Rebolaria. O casal, que vive em Lisboa, partiu uma segunda vez, com o mesmo intuito e novamente no âmbito de uma iniciativa nacional. Segundo Luís Prates, boa parte dos deslocados que está na sede do rancho veio da zona leste da Ucrânia e alguns de Kiev, inclusive de Bucha e Hostomel. “São pessoas que vieram muito marcadas e sentidas pelo que aconteceu lá”, frisa.

Lina Kulakova é irmã de Olga Zaits e tal como ela vive em Portugal há vários anos. Em casa, Lina e Luís celebram a Páscoa duas vezes, assim como o Natal.

Apesar de algumas diferenças nas tradições e sobretudo nos pratos confecionados, Luís Prates reconhece que as celebrações acabam por ser ambas marcadas por um convívio, “uma reunião familiar”. E neste encontro, não faltou a presença do padre Yuvenalii Mulyarchuck.

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