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Porto de Mós

Inaugurada Central que demorou 299 semanas a ser rebatizada

O edifício, degradado, entrou, oficialmente, em obras a 1 de outubro de 2016. Era sábado. Foi hoje inaugurada a requalificação. Quase 300 sábados depois, eis a Central das Artes

A ministra Ana Abrunhosa presidiu à inauguração da Central das Artes

Com a primeira pedra das obras de requalificação da antiga central termoelétrica de Porto de Mós lançada há exatamente 299 semanas, abriu hoje portas o resultado final da intervenção.

O edifício, degradado, entrou, oficialmente, em obras a 1 de outubro de 2016. Era sábado. Quase três centenas de semanas depois, ganha nova vida.

Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, descerrou a placa que assinala a inauguração. E elogiou a estabilidade e a capacidade de manter investimentos estruturais na agenda municipal, independentemente das cores políticas de quem lidera a autarquia.

Quando a primeira pedra foi lançada para esta obra, era João Salgueiro, eleito pelo PS, quem liderava a autarquia. Agora que a inauguração aconteceu, Jorge Vala, eleito pelo PSD, preside ao executivo que coloca um ponto final na obra.

João Salgueiro e Jorge Vala estiveram pois, na cerimónia de inauguração da obra que atravessou vários executivos, com diversas combinações políticas.

Há um traço de memória e afetivo que mantém a antiga central no imaginário local. Foi ali que há quase um século, nos anos 30 do século passado, se produziu eletricidade a partir de carvão, introduzindo-a no concelho.

A sirene de central era usada como relógio e numa das suas salas chegaram a projetar-se filmes. A central significou, para muitos, a possibilidade de contar com eletricidade em casa.

Cerca de 3,2 milhões de euros de investimento – dos quais 2,3 milhões de proveniência comunitária – foram aplicados na renovação e requalificação do espaço. Eis que surge a central que deixa de ser termoelétrica e passa a ganhar novo apelido. É rebatizada na função e no nome: é agora uma Central das Artes.

Ali passa a morar um espaço para a cultura. “Da cultura popular, à arte visual, dos grandes artistas, aos valores dos artistas locais, será um ponto agregador do nosso concelho”, apontou Jorge Vala, na cerimónia de inauguração, na tarde deste sábado.

 Ana Abrunhosa elogiou a continuidade dos projetos estratégicos: “É bom quando os projetos estratégicos têm continuidade, é muito boa essa estabilidade”, sublinhou.

A ministra deixou ainda o apreço pela aposta num investimento cultural, área que, entende, a par com a saúde e a educação, é fulcral. Mas que, reconheceu, foi bastante prejudicada com a pandemia.

Presidente da Câmara de Porto de Mós quando a obra arrancou, João Salgueiro adiantou ao REGIÃO DE LEIRIA a sua satisfação por ver concluída a obra que ajudou a tornar realidade.

“Demos o pontapé de saída da obra, era uma velha aspiração dos portomosenses”, adiantou. “Foi concluída e foi o trabalho que este executivo fez e fez bem, dou-lhe os parabéns por isso”.

João Salgueiro tem um único reparo a fazer à obra. A telha plasma que integra o revestimento da central deveria de ser originária do concelho, que tem unidades que a produzem, como ele próprio tinha indicado. Mas não foi. “Tenho pena que a telha não seja de Porto de Mós, é de Torres Vedras. É o meu único reparo” .

A pintura de Marta de Castro e escultura de Luís Amado, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, os trajes que marcaram as marchas de Porto de Mós, ao longo do tempo, e aspetos da história local, que atravessam a memória da exploração do carvão, da linha férrea mineira, bem como o pioneirismo automóvel, são outros aspetos patentes e que podem agora ser conferidos no espaço que permanecerá visitável.

De facto, o IPA, automóvel criado em Porto de Mós e que chegou a contar com três protótipos, mas cuja produção em série, nos anos 50 do século passado, foi travada pelo regime de Salazar, é um dos pontos que mais aguça o interesse na nova central.

Aí é possível conhecer o automóvel ao detalhe, faltando, todavia, o contra factual: e se Salazar não o tem proibido?

Ana Abrunhosa, no seu discurso, aventurou-se a especular: “imaginem que tínhamos ajudado a produzir o IPA em série: talvez eu tivesse vindo de IPA elétrico”, brincou.

O tempo do IPA elétrico nunca chegou e o da central termoelétrica já passou. As memórias de ambos moram agora na Central das Artes, inaugurada esta tarde, no arranque das festas de São Pedro, em Porto de Mós.

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