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A revolução começou? IA, ela está aí

A Inteligência Artificial está a chegar e deverá ser um novo ator em vários aspetos da sociedade, incluindo a educação e o trabalho.

“The Age of AI has begun”. É desta forma que Bill Gates encima um texto que publicou, em finais de março, no seu blogue. Vivemos momentos revolucionários. O texto que atesta que “a era da Inteligência Artificial (AI) começou” começa por afirmar que a IA é tão revolucionária como os telemóveis ou a internet. Será uma afirmação demasiado ousada?

Esta é uma tecnologia que “mudará a maneira como as pessoas trabalham, aprendem, viajam, obtêm assistência médica e comunicam umas com as outras”, adianta o fundador da Microsoft e um dos principais responsáveis pela democratização do acesso à informática e pela introdução dos computadores pessoais em boa parte dos lares do mundo.

“Durante a minha vida, assisti a duas demonstrações de tecnologia que me pareceram revolucionárias”, relata Bill Gates. A primeira vez, conta, foi em 1980, “quando fui apresentado a uma interface gráfica do utilizador – o precursor de todos os sistemas operativos modernos, incluindo o Windows”. A segunda grande surpresa aconteceu no ano passado, relata Gates. O antigo patrão da Microsoft referia-se ao ChatGPT, uma das ferramentas de IA que mais se tem destacado, muito embora esteja longe de ser a única. “Tenho estado a reunir-me com a equipa da OpenAI desde 2016 e fiquei impressionado com o seu progresso constante. Em meados de 2022, estava tão entusiasmado com o trabalho deles que lhes lancei um desafio: treinar uma inteligência artificial para passar num exame de Biologia de Nível Avançado. Fazer com que fosse capaz de responder a perguntas para as quais não foi especificamente treinada. (Escolhi o exame de Biologia de Nível Avançado porque o teste vai além da simples regurgitação de factos científicos – pede-te para pensar criticamente sobre a biologia). Se conseguirem fazer isso, disse, então terão feito uma verdadeira descoberta”, conta. A resposta chegou mais rápida que o esperado: “pensei que o desafio os manteria ocupados durante dois ou três anos. Eles terminaram em apenas alguns meses”.

A rapidez com que a IA se tem vindo a desenvolver, os impactos que se observam e, mais ainda, que se anteveem são, efetivamente surpreendentes e, provavelmente, revolucionários. Aliás, já este ano, várias personalidades assinaram uma carta aberta dirigida às empresas responsáveis pelos sistemas de Inteligência Artificial, solicitando que o processo de aprendizagem dos sistemas fosse congelado por 6 meses, com o objetivo de assegurar que possam ser regulamentadas várias questões ligadas ao impacto desta tecnologia na sociedade.

Para Gates, essa não é uma solução. Qualquer tipo de pausa nos sistemas de aprendizagem de IA seria difícil de impor. Estamos a falar de limites às várias empresas que estão a investir nestes sistemas, e não a uma em particular, aponta. Em paralelo, em Itália, já neste mês de abril, a autoridade nacional para Proteção de Dados bloqueou o ChatGPT, argumentando que aquela ferramenta não só usa dados pessoais como não conta com sistemas de verificação da idade menores, situações que levantam dúvidas quanto à sua legalidade.

De facto, as sociedades enfrentam um amplo desafio com esta nova tecnologia. Pelo menos nesse aspeto, a Bill Gates não pode deixar de ser dada razão. A corrida está em curso e é central nos tempos modernos. Na União Europeia, é assente que a IA tem um peso de relevo. Mariya Gabriel é a comissária para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude e não tem dúvidas: “A Inteligência Artificial tem um grande potencial para transformar a educação e formação para estudantes, professores e funcionários escolares. Pode ajudar estudantes com dificuldades de aprendizagem e apoiar os professores através de aprendizagem individualizada. No entanto, o uso de IA e dados traz riscos de privacidade, segurança e segurança, especialmente quando envolve os nossos jovens”. A comissária introduzia desta forma a questão quando a Comissão Europeia divulgou, em outubro do ano passado, diretrizes para auxiliar os professores a enfrentar os preconceitos em relação à IA e promover o seu uso de forma ética. “O aumento rápido do uso de IA requer que educadores e estudantes tenham uma compreensão básica de IA e uso de dados para poderem se envolver de forma positiva, crítica e ética com essa tecnologia e aproveitar todo o seu potencial”, aponta a nota.

Este parece ser um daqueles momentos em que se pressente uma mudança radical, ainda que nem sempre fácil de perceber na sua ampla dimensão. Quem ensaiar olhar o seu futuro, a procurar opções e alternativas, pretendendo desenhar um percurso, não deve perder de vista esta mudança. A IA está a chegar e deverá ser um novo ator em vários aspetos da sociedade, incluindo a educação e o trabalho, mundos cada vez mais entrelaçados.

A IA evoluiu para um registo que permite um “trato, cada vez menos formal”, como adianta Carlos Rabadão, investigador e presidente do Politécnico de Leiria. Em recentes declarações ao REGIÃO DE LEIRIA, lembrou que esta crescente informalidade, “diminui as diferenças” entre utilizador e tecnologia e “permite evoluir a sua comunicação para um nível muito aproximado ao dos humanos. Esta aproximação pode ser utilizada para facilitar a consulta e a construção do conhecimento em benefício de todos, permitindo criar espaço para que os momentos de contacto no ensino sejam potenciados e resultem num melhor aproveitamento. Mas pode também ser um pouco assustadora – como aliás é típico das tecnologias revolucionárias”.

O impacto na educação era a abordagem do investigador. As consequências no mundo do trabalho também começam a merecer a atenção dos responsáveis pela gestão nas empresas. “A rápida evolução da IA. irá substituir sem dúvida muitas das profissões que hoje conhecemos, mas o mais provável é que a IA venha a aumentar o desempenho humano, automatizando parte de uma tarefa e permitindo que os trabalhadores se dediquem a atividades que exigem competências sociais, relacionamento interpessoal e empatia”, apontou, por sua vez, Rosa Pedrosa, Head of Business Support Services and Talent da inCentea, empresa que trabalha na prestação de serviços profissionais nas áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação, Marketing e Inovação, Consultoria de Negócio, e Engenharia de Produto. Rosa Pedrosa lembrou igualmente que “o desenvolvimento da IA criará profissões técnicas especializadas de construção da própria IA”. Há, portanto, um potencial de mudança enorme à espera de se revelar.

Nas áreas do trabalho e da educação, os humanos devem esperar mais consequências positivas ou negativas da evolução de ferramentas de inteligência artificial, como é o caso do ChatGPT? Propusemos o desafio à própria ferramenta de IA. E ela não esconde potenciais vantagens nem afasta os perigos (ver quadro nestas páginas). O desafio será, porventura, manter a humanização da tarefa de garantir que também esta ferramenta – que está já inscrita no futuro de muitas profissões – será sempre um auxílio para o desenvolvimento.

IA no trabalho e na educação; segundo o ChatGPT

Consequências positivas:
1. Automatização de tarefas tediosas
A Inteligência Artificial pode ser usada para automatizar tarefas rotineiras e repetitivas, liberando os seres humanos para se concentrarem em atividades mais criativas e significativas no trabalho e na educação.

2. Acesso a informações e recursos
Através de ferramentas de inteligência artificial, os seres humanos podem ter acesso a uma quantidade maior de informações e recursos educacionais, permitindo uma aprendizagem mais personalizada e eficiente.

3. Melhoria na eficiência e na precisão
A Inteligência Artificial pode ajudar a melhorar a eficiência e a precisão de várias tarefas, como análise de dados, diagnósticos médicos, correção de redações, entre outros, o que pode levar a melhores resultados no trabalho e na educação.

4. Personalização e adaptação
A Inteligência Artificial pode ser usada para personalizar a experiência de aprendizagem e trabalho de acordo com as necessidades individuais, fornecendo feedbacks e recomendações específicas para cada pessoa, permitindo um desenvolvimento mais adequado às habilidades e interesses de cada um.

Consequências negativas:
1. Desemprego e substituição de trabalhadores
A automação impulsionada pela Inteligência Artificial pode levar à substituição de trabalhadores em certas tarefas e sectores, o que pode resultar em desemprego e desafios socioeconómicos.

2. Viés e discriminação
As ferramentas de Inteligência Artificial podem ter viés embutido nos seus algoritmos, o que pode levar a discriminação injusta em áreas como contratação, promoção, admissão em escolas, entre outros.

3. Dependência excessiva de tecnologia
A crescente dependência de ferramentas de Inteligência Artificial pode levar a uma diminuição das habilidades e capacidades humanas, o que pode ter impacto negativo na educação e no trabalho.

4. Questões éticas e de privacidade
A Inteligência Artificial pode levantar preocupações éticas e de privacidade, como o uso inadequado de dados pessoais e a falta de transparência nas decisões tomadas por algoritmos, o que pode ter implicações negativas para os trabalhadores e estudantes.