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Como lidar com a ansiedade de mudar de escola ou ir para o ensino superior?

O psicólogo Ricardo Cardoso propõe algumas estratégias para ajudar pais e filhos a superar mudanças de ciclo

O dia da mudança acaba sempre por chegar. Para além das avaliações, aprendizagens, amigos que se fazem, relações que se forjam, a passagem pelo sistema de ensino tem uma componente emocional incontornável: o impacto nas crianças e jovens adultos em consequência da mudança de escola ou ida para o ensino superior é um tema relevante e que suscita preocupações tanto para os estudantes quanto para suas famílias.

Estas são circunstâncias de tensão e mesmo de alguma rutura. E, bastantes vezes, a ansiedade entra em ação. É natural que se sinta alguma ansiedade? Para o psicólogo Ricardo Cardoso, é natural que uma criança ou jovem sinta alguma ansiedade diante da necessária mudança de escola ou ciclo de estudos.

Com trabalho na área das emoções, Ricardo Cardoso afirma que “sentir ansiedade é essencial para a ativação do ser humano”, e o problema reside na intensidade e frequência com que a ansiedade ocorre. No entanto, o psicólogo ressalta que a ansiedade “tem uma emoção por base”, que é o medo, e é importante identificar os pensamentos que a ansiedade traz e expressá-los.

O especialista sugere que a família desempenhe um papel fundamental nesse processo, ouvindo o que os filhos sentem. “Primeiro que tudo perceber que a ansiedade tem uma emoção por base que é o medo e que, de uma forma simplista, é importante percebermos quais são os pensamentos que ele nos traz. Depois disso é importante expressar tudo isto. O melhor é ter essa oportunidade dentro da família. O papel dos pais deve ser esse mesmo, ouvir o que os filhos sentem e pensam sobre as questões do dia a dia e principalmente aquelas que os deixam ansiosos”, refere.

Para lidar com essa situação, há ferramentas e conselhos que se podem revelar úteis. E que tal começar por ver um filme? Ricardo Cardoso não explica se esta tarefa é acompanhada de pipocas – provavelmente fica à mercê da escolha do espectador – mas recomenda assistir ao filme animado “Divertidamente”, que explica o funcionamento das emoções no cérebro.

Mas não só: “aconselho sempre a verem o filme animado ‘Divertidamente’ que explica o funcionamento das emoções no nosso cérebro, deixando também a sugestão de alguns exercícios de meditação e relaxamento que podem encontrar nas plataformas digitais, mas nada melhor do que racionalizar os medos e encontrar forma de os ultrapassar”, sugere.

Convívio com os outros é essencial

No caso da entrada no ensino superior e a consequente mudança, muitas vezes para fora da casa dos pais, o psicólogo destaca que a preparação para essa alteração radical, nas vidas dos pais e do aluno, deve ocorrer desde a adolescência. Ou seja, há um conjunto de comportamentos e atividades que se podem aperfeiçoar, como se fosse um músculo que se prepara para enfrentar um esforço novo e desafiante.

“Esta preparação deve acontecer desde o início da adolescência e através das atividades desportivas ou lúdicas”, explica, deixando como exemplo a prática de andebol ou integrar grupos como os escuteiros. Explica o psicólogo que “o convívio com os outros e a estimulação da autonomia é essencial para preparar esta mudança”.

Os pais também têm um outro papel relevante, pois, entende “muito importante é os pais promoverem desde cedo a autonomia em termos das tarefas domésticas e alimentares dos filhos”. E claro, essa autonomia pode ser exercitada de outras formas complementares: “sugiro sempre que possível acampamentos, férias desportivas, atividades em que as crianças possam vivenciar a sua autonomia e autogestão emocional”.

O ideal é que estas estratégias mostrem ser eficazes. No entanto, se as estratégias familiares não estiverem funcionando, os psicólogos são os profissionais capacitados para estimular a capacitação e adaptação às mudanças.

A mudança de escola ou ida para o ensino superior pode causar ansiedade nas crianças e jovens adultos, e é importante que eles e suas famílias lidem com essa emoção de forma adequada. Ferramentas como a expressão dos pensamentos, exercícios de meditação e relaxamento, estimulação da autonomia desde cedo, e o recurso a um psicólogo, quando necessário, podem contribuir para uma adaptação mais saudável a essa nova fase de suas vidas.