A conclusão do ensino básico ou secundário é um momento decisivo na vida de qualquer jovem. Com ela, surge uma pergunta que muitos consideram assustadora: “E agora, o que vou fazer a seguir?”.
Esta é a questão central, mas natural, que se coloca a quem chega à altura em que é preciso escolher um caminho: o ciclo de estudos termina e é necessário optar. Que curso escolher para continuar a estudar? Que soluções existem?
Optar por um curso universitário ou seguir uma via profissional? Escolher uma área de Ciências ou de Artes? Ir para fora ou ficar perto de casa? A orientação vocacional pode desempenhar um papel importante nesta altura. Não falta quem saiba, desde cedo, qual o caminho que quer seguir. Mas também é natural chegar a esta fase ainda sem capacidade de resolver este dilema.
“É normal haver indecisão sobre o futuro profissional ou educativo, já que escolher um percurso envolve que o aluno conheça os seus interesses, valores, capacidades e oportunidades que nem sempre estão claros na juventude. O essencial é explorar interesses e lembrar que essa escolha é apenas o primeiro passo, não uma decisão definitiva para toda a vida”, explica Maria Cecília Morais, responsável pelo programa de orientação escolar e vocacional do Serviço de Psicologia e Orientação, da Escola Secundária Afonso Lopes Vieira (ESALV), em Leiria.
Como em muitas outras escolas, também aqui há múltiplos alunos com variados percursos possíveis para o seu futuro. E, nesta e noutras escolas, há especialistas em orientação vocacional, isto é, em auxiliar com apoio e aconselhamento, jovens, e também adultos, no processo de tomada de decisões relativamente ao percurso académico e profissional que os espera. Conhecer melhor quem se é, quais os interesses, capacidades e valores, e como tudo isso pode ser articulado com as oportunidades existentes no mundo do trabalho e da educação é o segredo do sucesso deste processo.
Ajuda especializada é meio caminho andado
E como se faz? Entrevistas individuais, testes psicotécnicos, sessões de esclarecimento sobre cursos e profissões, visitas a feiras de educação e emprego – como é o caso do certame realizado pelo REGIÃO DE LEIRIA, entre 14 e 16 de maio, e que serve de mote para esta publicação -, são algumas das ferramentas usadas nesta área.
Na prática, neste percurso, com o apoio de técnicos especialmente treinados para o efeito, os jovens ficam mais bem preparados para tomar decisões autónomas e ajustadas ao seu perfil e às circunstâncias do mercado de trabalho.
“O principal conselho é que os jovens explorem ativamente os seus interesses, pois eles dão pistas sobre o caminho a seguir”, refere Maria Cecília Morais. Para esta especialista, as “diferentes atividades de orientação escolar que decorrem ao longo do ano letivo e a participação no Fórum Emprego e Formação são ótimas oportunidades para desenvolver o autoconhecimento”.
Maria Cecília Morais realça igualmente que também é importante que os jovens “pesquisem autonomamente as opções de cursos e áreas profissionais e conversem com familiares, amigos ou profissionais das áreas de interesse. Esta combinação de reflexão, autoconhecimento e recolha de informações torna a escolha mais consciente e alinhada com o perfil de cada jovem e também as necessidades do mercado de trabalho”.
Se é certo, e é, que é sempre possível mudar o percurso que estamos a seguir, caso entendamos que essa é uma opção necessária, não é menos verdade que algumas escolhas feitas no presente podem ter implicações duradouras no futuro. Dito de outra forma, as decisões devem ser bem ponderadas pois não é difícil perceber que investir, vários anos, num curso superior ou numa formação técnica, exige tempo, energia e recursos. Evitar decisões precipitadas baseadas em pressões externas, modas passageiras ou falta de informação são conselhos básicos, mas bastante úteis.
É verdade que ninguém tem uma bola de cristal que permita antever com certeza como será o futuro. No entanto, conhecer-se a si próprio, explorar as opções disponíveis e procurar orientação pode ajudar a tomar uma decisão mais segura e satisfatória.
Decidir bem e acompanhado
“O processo de decisão não deve ser feito de forma solitária. O apoio dos encarregados de educação, conversas com familiares e amigos, é fundamental para ajudar o aluno a refletir sobre as escolhas”, alerta Maria Cecília Morais. No entanto, esclarece, “apesar de ser importante ouvir diferentes perspetivas, a decisão final deve ser sempre do próprio aluno, respeitando os seus interesses, motivações e o seu projeto de vida”.
É, pois, importante frisar que a escolha do percurso formativo não tem de ser e nem deve ser uma jornada solitária. Os pais, os amigos e, também a escola, têm um papel de relevo. Os pais ou encarregados de educação, usualmente, têm maior experiência nestas matérias e poderão deixar alguns conselhos úteis. São fonte de apoio emocional e psicológico, sendo importante que os pais saibam ouvir e respeitar os interesses e aspirações dos filhos, evitando impor expectativas que possam não estar alinhadas com o perfil e os sonhos dos jovens. Por outro lado, os amigos conhecem-nos bem e podem apontar sugestões que se adequam ao seu perfil e a escola tem, certamente, a possibilidade de oferecer apoio através de psicólogos escolares, professores e sessões de orientação.
Em resumo, escolher o caminho do futuro é um desafio, mas é igualmente uma oportunidade para um conhecimento mais aprofundado do mercado de trabalho, das opções existentes e, mesmo, de nós próprios. E é importante levar em conta que a orientação vocacional é um instrumento útil neste processo: é uma aliada.
Por fim, errar, ter dúvidas, mudar, é normal. O importante é ter acesso a boa informação que permita as melhores escolhas possíveis e que façam sentido para quem tem de decidir. Não há um só caminho, nem um caminho certo. Cada um traça o seu percurso.
Passos para uma decisão
- Conhece-te a ti próprio: Que disciplinas gostas mais? Que atividades te entusiasmam? Preferes trabalhar com pessoas, com máquinas, com números, com palavras? És mais criativo ou mais prático? Gostas de rotina ou de variedade? Estas são algumas perguntas fundamentais.
- Informa-te: Explora os cursos existentes (tanto universitários como profissionais), os planos de estudos, as saídas profissionais. Participa em feiras de educação e formação, visita escolas e universidades, lê testemunhos de estudantes e profissionais.
- Experimenta: Sempre que possível, procura experiências práticas – estágios de curta duração, programas de verão, voluntariado em áreas do teu interesse. Isso pode ajudar a perceber se a realidade corresponde às expectativas.
- Consulta profissionais: Psicólogos escolares, orientadores vocacionais, professores e até profissionais das áreas que te interessam podem oferecer conselhos valiosos. Não hesites em fazer perguntas.
- Reflete com os outros: Conversa com a tua família e amigos, mas lembra-te de que a decisão final deve ser tua.
- Aceita que é normal ter dúvidas: Poucas pessoas têm certezas absolutas aos 15, 17 ou 18 anos. Ter dúvidas é parte do processo. O importante é agir para as esclarecer.
Onde encontrar mais informação
• Serviços de Psicologia e Orientação das escolas: normalmente têm profissionais especializados que acompanham os alunos neste processo.
• Portal Infocursos (https://infocursos.medu.pt): permite conhecer a oferta formativa do ensino superior em Portugal e comparar dados como taxa de empregabilidade, média de entrada, etc.
• Qualifica (www.qualifica.gov.pt): plataforma do Governo que ajuda jovens e adultos a planear percursos formativos e profissionais.
• GIP – Gabinetes de Inserção Profissional: muitos municípios e associações juvenis têm estes gabinetes que apoiam a integração de jovens no mercado de trabalho.
• Centros Qualifica: promovem o reconhecimento de competências e oferecem orientação formativa e profissional para jovens e adultos.