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Paixão, compromisso e planeamento fazem deles casos de sucesso

São alunos do básico, secundário e superior e conciliam a vida académica com atividades desportivas ou artísticas. Nos dois campos apresentam resultados (bastante) positivos. Como se coordenam agendas diárias, da família e da vida pessoal, como cumprem as responsabilidades que assumem e como pretendem alcançar novos objetivos na vida estudantil e profissional são algumas das respostas que Leonardo, Rita e Rodolfo deixam na conversa que tiveram com o REGIÃO DE LEIRIA.

É dentro de água que se sente bem a colecionar títulos e recordes

Rodolfo Alecrim, estudante no Colégio Conciliar Maria Imaculada, em Leiria, e nadador do Clube Náutico de Leiria

O dia de Rodolfo Alecrim começa cedo, mais cedo do que para a maioria das pessoas, sobretudo com 15 anos. É que o nadador do Clube Náutico de Leiria, pelas 6h15, já está a entrar na água, para o primeiro treino. Chega à escola às 8h30 e sai ao fim da tarde. “Vou a casa relaxar um pouco e venho para as piscinas. Faço treino de ginásio, volto a entrar na água e regresso a casa às 21 horas. Depois é ‘chichi e cama’, para preparar outro dia”, explica. Domingo é, normalmente, dia de descanso.

A concluir o 9º ano de escolaridade no Colégio Conciliar Maria Imaculada (CCMI), em Leiria, é bom aluno e confessa que aproveita bem os tempos livres para estudar e a concentração nas aulas é fundamental para manter o rendimento escolar e desportivo. Só com os dois pratos da balança equilibrados é possível obter resultados, refere, lembrando que o apoio dos amigos nos estudos é tão importante como quando aplaudem as suas vitórias.

Quando participa em provas nacionais ou estágios de seleção, como aconteceu em março passado, os colegas de turma partilham com ele os apontamentos para conseguir recuperar. Também os professores têm algum cuidado para o colocar a par da matéria.

FOTO: Luís Filipe Coito

Federação identifica-o como talento a acompanhar

Rodolfo Alecrim sabe de onde vem, onde está e para onde quer ir. Diz ser assim em tudo o que faz, num discurso muito claro e focado. Talvez isso seja parte da justificação para o progresso e nível competitivo em que se encontra aos 15 anos.

Começou a nadar aos três e durante muito tempo, conta, entrou “simplesmente” na água, “porque era fresquinho e tal”. Há três anos, deu o salto… ou melhor, o mergulho, e passou a constar entre as figuras de topo distritais e, muitas vezes, nacionais da natação.

Bateu o seu primeiro recorde nacional, em 2023, nos 100 metros livres em piscina curta, como infantil B. “Quando saí da piscina, nem me apercebi do que tinha feito. Fui ter com o meu pai e chorei imenso, chorámos os dois, porque isto só funciona se tiver o apoio da família e os meus pais apoiam-me imenso”, destaca o atleta do CNL.

Tomou-lhe o gosto e, esta época, o nadador já melhorou 13 recordes nacionais individuais da sua categoria, alguns deles estabelecidos pelo próprio em competições anteriores.

No início de abril, esteve no campeonato nacional de natação, em piscina longa, e, como em quase todas as provas em que participou esta temporada, Rodolfo Alecrim voltou a bater recordes nacionais.
No primeiro dia, Rodolfo Alecrim melhorou o (seu) recorde nacional e venceu nos 50 metros livres (juvenis B). Foi ainda o melhor na distância de 50 metros mariposa.

Com estas duas vitórias, a que acrescentou outras duas e um segundo lugar, ficou no top10 dos atletas multimedalhados da prova e alcançou um dos objetivos da época, os mínimos para os Jogos Olímpicos da Juventude Europeia (FOJE), em julho, na Macedónia. Tornou-se no primeiro atleta masculino português a conseguir a qualificação.

Também por tudo isto, a Federação Portuguesa de Natação destacou-o como um dos talentos a acompanhar em 2025 e considera que, “pelo tipo de provas que nada e pelo porte físico, as comparações com Diogo Ribeiro [atleta olímpico] começaram a tornar-se inevitáveis”.

Ser o primeiro

Para o jovem, o destaque da Federação é motivo de orgulho – “fruto do meu trabalho” -, e fica satisfeito com a comparação com o nadador olímpico, mas quer mais. “O Diogo Ribeiro será sempre o Diogo Ribeiro. Mas eu não quero ser um segundo Diogo Ribeiro, quero ser o primeiro Rodolfo Alecrim”, afirma.

Com o FOJE garantido, os objetivos do jovem leiriense estão bem definidos. “A curto prazo, é ser feliz. Todos os anos, quando entrego os objetivos [da época] ao meu treinador, o primeiro de todos é ‘ser feliz’. Só assim é possível estar aqui. Depois continuar a treinar bem. Sei que vão existir alguns recordes, alguns tempos mínimos que vão acontecer e, daqui a três anos, queria estar nos Jogos Olímpicos. Esse é o grande objetivo, a longo prazo. Se não for em Los Angeles, que seja nos próximos, e ganhar a medalha de ouro”, afirma.

Para isso sabe que o seu futuro, desportivo e académico, pode não passar por Leiria, mas a mudança não o assusta. Conta com o apoio incansável dos pais e do treinador e tudo será avaliado no devido tempo, assegura.

Entre estudos e arte: o equilíbrio do artista enquanto jovem

Leonardo Pinto, estudante de Artes Visuais na Escola Secundária de Pombal e músico

O REGIÃO DE LEIRIA sentou à mesma mesa o projeto musical Thispage, mas também a mãe e o pai do jovem artista Leonardo Pinto.

Aos 16 anos, Leonardo já demonstra maturidade. Aluno do curso de Artes Visuais na Escola Secundária de Pombal, divide o seu tempo entre os estudos, a música, o teatro e projetos criativos.

A pergunta central é: como é que consegue equilibrar tantas paixões sem perder o foco? “Tem de haver disciplina”, responde prontamente a mãe Marisa Nunes. Leonardo complementa e diz que é graças à avó – uma professora aposentada – e à mãe a grande parte dos métodos de estudo que utiliza hoje: “Desde pequeno que me ensinaram a estar atento nas aulas. Consigo reter quase toda a informação e depois só preciso de fazer uma revisão geral em casa”.

O objetivo de Leonardo é claro: quer seguir Animação Digital, uma área que lhe permite unir o cinema e a música, duas paixões que sempre caminharam lado a lado na sua vida. “Quando falo de animação, é animação de cinema. Dá para fazer videoclipes, bonecos, coisas gráficas que gosto muito”, explica. Entre as opções de ensino universitário, destaca-se uma em Paris, França, conhecida por ser altamente competitiva. “Os critérios são baseados no portfólio artístico, exercícios específicos e entrevistas online. A média da escola vale zero”, conta, mostrando que o mérito académico tradicional não é o único caminho.
“Procurámos sempre levá-lo a exposições, concertos, teatros e viagens. Conhecer outras culturas enriquece”, explica o pai, Humberto Pinto, que vê no filho alguém destinado a abraçar múltiplas formas de arte.

Versatilidade artística

Quando era mais novo, Leonardo teve aulas de canto e até ganhou o concurso Crianças ao Palco Pombal, “uma fase um bocadinho foleira”, sobre a qual prefere não falar muito.

Criado em 2023 por Leonardo Pinto, Thispage é mais uma página no percurso do jovem artista e surge na sequência da edição do EP “Human problems”. Estreou-se integrado na programação do Festival Clap Your Hands, em março de 2024, e fez uma mini-digressão na Ilha, no festival TiMilha, nos Açores e em Coimbra.

No início deste ano, através do projeto “A Música dá Trabalho”, desenvolvido pela cooperativa cultural de Leiria CCER Mais, Leonardo Pinto esteve na Escola Tecnológica, Artística e Profissional (ETAP), de Pombal, para dar a conhecer Thispage, procurando inspirar os alunos com o seu percurso e versatilidade artística. Em paralelo, mantém também um projeto com o músico Rapaz Improvisado.

E apesar do apoio familiar, nem tudo foi simples. Quando decidiu trocar um percurso mais científico – como Programação e Informática – pelo mundo das Artes, enfrentou alguma resistência. “No início não foi fácil, principalmente para a minha mãe. Houve algumas discussõezitas, mas depois conseguimos chegar a um consenso”, conta.

Para o músico pombalense, Portugal é um país injusto para os artistas, onde sobreviver apenas da arte é um desafio. “Temos de diversificar, fazer várias coisas para ter pão na mesa”, afirma, destacando a necessidade de se adaptar às realidades do mercado.

Dedicação aos estudos e aos trampolins recompensados com Elite

Rita Vieira, estudante de Ciências Biomédicas Laboratoriais (Egas Moniz), ginasta do CCR Alto Minho

Deu os primeiros passos nos trampolins aos 3 anos. Praticou outras modalidades e aos 9 decidiu que era nas alturas que queria continuar a voar.

Com as cores do Trampolins Clube de Leiria (TCL), conquistou títulos distritais e nacionais, representou por várias vezes a seleção nacional em provas internacionais (CMGI – Campeonato do Mundo de Grupos por Idades, e Campeonato da Europa 2021, em Sochi, Rússia) e alcançou o estatuto Elite há quatro anos. No final de abril, renovou por mais um ano o estatuto, já como sénior.

Aos 18 anos, com a entrada no ensino superior, Rita Vieira saltou para outra realidade. Estudante de Ciências Biomédicas Laboratoriais, no Instituto Superior de Ciências na Saúde Egas Moniz, no Monte da Caparica, Almada, trocou Leiria pela margem sul, veste agora as cores do Centro Cultural e Recreativo do Alto do Moinho (CCRAM) como atleta e treinadora, e procura qualificar-se para o Campeonato do Mundo de trampolins, em absolutos, ao mesmo tempo que está a frequentar o curso de treinadores.

Compromisso

Como se consegue conciliar tudo? Com compromisso.

“Frequentei o LIS – Leiria Internacional School [antigo CLIC], onde aplicam o programa de Cambridge, e o meu pai sempre me incentivou o estudo acima de tudo, mesmo antes do desporto. Eu saía da escola e ia para o treino, chegava às 10 horas da noite a casa e comprometia-me com os estudos, de forma a conseguir fazer tudo”, explica.

“Sinto que se não tivesse essa rotina tão atarefada, perdia-me. Quando tenho tempo livre na faculdade ou não há treinos, fico um pouco perdida. Preciso de ter sempre alguma coisa para fazer, faz parte de mim, talvez pelo ritmo que tenho feito nos últimos anos e é assim que me sinto feliz”, acrescenta.

A exigência das atividades que desenvolve, quer nos trampolins, quer nos estudos, obrigam a uma gestão bastante compenetrada e compensada. “Uma coisa balança a outra. Quando estou mais cansada da escola, vou para o treino e relaxo um pouco dos estudos ao mesmo tempo que me foco. Sinto uma distração durante duas, três horas e isso faz bem ao cérebro. Depois, à noite, quando tiver de estudar, é difícil, devido ao cansaço do corpo, mas já vou estar muito melhor e reter muito mais informação”, justifica.

Os resultados também contribuem para esta equação. “Ser atleta Elite dá-me descanso, porque é sempre uma marca boa de alcançar e dá-me mais possibilidade de ser convocada para Taças no Mundo. Vou fazer apuramento também para o Campeonato da Europa e, é isso que quero, concorrer com atletas mais velhos, até porque vai acontecer alguma renovação na seleção e é uma forma de entrar e ganhar o meu espaço”, conta.

A agenda de Rita está devidamente planeada. Todos os dias, olha para o plano que tem no computador e prepara o dia seguinte. De segunda a sexta-feira tem aulas, deixa a escola depois das 16h30 e apanha o metro, comboio e autocarro, para chegar ao clube às 18 horas e dar treino até às 19h45. Segue-se o seu treino até às 21h30 e regressa a casa pelas 22 horas, para descansar o corpo e a mente.

“Comecei a treinar no Alto do Moinho, em Corroios, Lisboa, em abril do ano passado, para me adaptar, fazia dois treinos por semana em Lisboa e os restantes em Leiria. De certa forma, foi positivo, para me adaptar. Ainda hoje, se precisar, treino em Leiria, afinal é também a minha casa, os treinadores dão-se bem e posso rever amigos”, afirma, recordando que a melhor amiga, Diana Silva, com quem fez dupla muitos anos em trampolim sincronizado, continua em Leiria, a estudar Fisioterapia.

Nos tempos livres aproveita para descansar e ir à praia, passear na marginal da Costa da Caparica.

Superar lesões e celebrar vitórias

Mas o caminho para chegar a este patamar, não foi fácil. Rita Vieira enfrentou várias lesões. Em 2020, durante a pandemia, fraturou o cotovelo e fez fisioterapia sozinha, uma vez que o estatuto de alto rendimento lhe permitia sair de casa. E em 2022, fraturou a perna e recebeu o prognóstico de que nunca mais voltaria a saltar. “Foram dois anos de sofrimento, mas estou aqui e já fui ao Campeonato do Mundo depois disso, em 2023 em Birmingham, Inglaterra. Fiz um salto e quando saltei para fora do trampolim, caí em pé, fiz um agachamento, olhei para o pé e estava de lado”, recorda.

O regresso aos trampolins foi difícil, mas contou com a ajuda de todos e um simples ato mudou tudo. “O técnico Rui Branco, do TCL, mudou a disposição dos equipamentos no pavilhão e isso ajudou-me bastante, e ele se calhar nem sabe disso. Entretanto, já voltei a fazer o mesmo salto”, afirma.

A par da licenciatura, a jovem atleta vai dedicar os próximos tempos a preparar saltos novos, rotinar séries e tentar a convocatória para a Taça do Mundo, em Coimbra, e depois tentar entrar para os campeonatos do mundo.

Textos: MG e PMC