Para evitar alguns becos sem saída e se o objetivo é entrar no mercado de trabalho, fazer um Curso Técnico Superior Profissional (TeSP) é a opção.
Quem quiser continuar para a licenciatura, ótimo: vai com uma preparação ainda mais robusta. Mas a vocação profissionalizante é cada vez mais um imperativo.
Muitos alunos do ensino secundário não conhecem alternativas ao ensino superior tradicional e é importante desmistificar o preconceito que só a licenciatura é que tem valor. Existem caminhos complementares e fazer um TeSP é uma excelente forma de entrar rapidamente no mercado de trabalho.
O REGIÃO DE LEIRIA falou com vários coordenadores desta opção académica, nos dois estabelecimentos de ensino superior da região – Instituto Politécnico de Leiria e Instituto Superior Dom Dinis (ISDOM) – que garantem existir uma percentagem de empregabilidade muito alta.
As parcerias com empresas que asseguram um estágio é uma parte fundamental, mas também possibilita, a quem o desejar, ingressar numa licenciatura e com equivalências a algumas cadeiras que não terão de repetir. Esta pode ser a chave de saída. Eis alguns exemplos existentes na região.
Música Digital: só podia ser em Leiria
O TeSP de Música Digital surge como resposta a uma necessidade regional. “Desde o processo de Bolonha que deixámos de ter a formação de professores no domínio da Educação Musical. Porém, e tendo em conta o contexto regional; Leiria Cidade Criativa da Música; a necessidade de formar jovens nesta área; a procura e também a solicitação muito forte da região junto da ESECS [Escola Superior de Educação e Ciências Sociais] para propor uma formação que fosse ao encontro das necessidades e também das características do público, tomaram-se decisões.
Nessa perspetiva pensámos em duas formações: o TeSP de Música Digital e a pós-graduação em Direção de Bandas e Ensembles de Sopros”, contextualiza a docente Sandrina Milhano, e coordenadora do departamento de Artes, Criatividade e Cultura da ESECS, em Leiria.
O curso visa formar profissionais para dj, mixagem, gravação, edição e produção. “É um curso que promove os fundamentos da música, da criação, da composição, da performance, da formação musical, em simultâneo com uma abordagem tecnológica”, destaca.
Os estágios são uma componente essencial, com parcerias estabelecidas desde a sua criação. “Não temos tido dificuldade em encontrar locais de estágio aqui em Leiria”, esclarece Sandrina Milhano, e menciona estúdios, espaços culturais como o Teatro José Lúcio da Silva, associações ou entidades que promovem festivais e projetos musicais.

“A proximidade com empresas líderes permite aos alunos contactar com a realidade profissional desde cedo, o que se reflete nas elevadas taxas de empregabilidade.”
Cristina Simões,
Diretora do Instituto Superior D. Dinis (ISDOM)
A primeira turma concluiu o curso em julho do ano passado. “Uma parte deles prosseguiu estudos, outros regressaram às suas localidades e outros estão envolvidos em projetos musicais”, afirma a docente. O perfil dos alunos é variado, incluindo jovens recém-saídos do secundário e músicos da região.
Quem prossegue os estudos tem várias opções e tanto pode escolher Som e Imagem, na ESAD-CR, Comunicação e Media, na ESECS ou até, mais tarde, no mesmo estabelecimento de ensino do Politécnico de Leiria, o mestrado em Intervenção e Animação Artísticas.
O corpo docente é composto por diversos especialistas: “Temos colegas ligados aos fundamentos da música, à performance, às ciências musicais e às tecnologias da música”, detalha. O curso enfrenta desafios relacionados com os avanços tecnológicos e a inteligência artificial. “Os avanços tecnológicos colocam imensos desafios, mas encontrar novas profissões e nichos de ação será sempre o maior desafio”, diz. A criatividade e a integração da dimensão humana na criação musical são temas centrais.
A eventual transição do IPLeiria para Universidade não deverá alterar a oferta. “A ideia é manter a formação que temos e torná-la mais abrangente”, garante.
De estrelas do mar a estrelas Michelin
O TeSP de Cozinha e Produção Alimentar destaca-se em várias frentes, assegura a chef Patrícia Borges, docente na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche e coordenadora deste curso.
Além de ensinar técnicas culinárias, prepara os alunos para desenvolver receitas aplicadas à indústria, gerir unidades de restauração e implementar sistemas de higiene alimentar. A formação permite que os estudantes se tornem consultores de empresas, elaborando novos menus e conceitos gastronómicos, por exemplo.
A procura tem sido significativa. “Temos muitos estudantes internacionais”, revela, acrescentando que também há alunos provenientes de áreas como restauração, turismo e cursos de cozinha. A maioria dos candidatos concluiu o 12.º ano e procura profissionalizar-se, mas depois, só 40% faz a progressão para o ensino superior. “Não temos uma licenciatura em cozinha, mas temos cursos semelhantes”, explica, mencionando a Gestão da Restauração e Catering e a Gestão Turística e Hoteleira como opções viáveis.
O curso inclui um estágio de 640 horas. A taxa de empregabilidade é elevada, com muitos alunos a optarem por estágios internacionais através do Programa Erasmus, que oferece apoio financeiro e acesso a unidades de prestígio, incluindo restaurantes com estrelas Michelin.
“Mais de 50% dos alunos do último curso foram para o estrangeiro”, revela, destacando a atratividade das oportunidades internacionais. No entanto, isso também representa um desafio, pois muitos alunos acabam por seguir carreiras fora de Portugal.

“Temos muitas instituições que nos pedem estagiários e é curioso porque o desejo delas é que os estudantes fiquem lá a trabalhar”
Fernando Magalhães,
Docente e coordenador do TeSP Ambiente, Património e Turismo Sustentável (IPLeiria)
A diversidade de género é outro aspeto relevante. A presença feminina tem vindo a aumentar. “Acho que ainda são mais homens, mas temos cada vez mais mulheres na cozinha”, observa, refletindo uma mudança nas dinâmicas de género na área da restauração.
Os principais desafios do curso residem na capacidade de cativar empresários, devido a questões como horários e condições de trabalho. No entanto, a alta procura por profissionais qualificados continua a ser um ponto forte. “A nossa prioridade é que eles tenham uma formação de qualidade e saiam aptos a integrar o mercado de trabalho”, conclui.
Ambiente, Património e Turismo Sustentável
Denominado Ambiente, Património e Turismo Sustentável, é um TeSP constituído por um grupo interdisciplinar composto por antropólogos, geógrafos e especialistas em ambiente, com o objetivo de valorizar o património da região. “Estamos numa região muito rica em termos de património cultural”, explica o professor Fernando Magalhães, coordenador deste curso, enquanto sublinha que esta riqueza vai desde monumentos nacionais até património imaterial classificado.
Estudantes de todo o país, e até do estrangeiro, ingressam nesta formação, que atrai tanto jovens recém-saídos do ensino secundário como profissionais experientes em busca de novas competências.
Uma característica marcante do curso é a sua vertente prática. Com estágios em instituições públicas e privadas, os estudantes têm a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos. Museus, agências de viagens, hotéis e até empresas responsáveis pelas grutas da região colaboram ativamente com o programa. “Temos muitas instituições que nos pedem estagiários e é curioso porque o desejo delas é que os estudantes fiquem lá a trabalhar”, revela o docente. Ainda assim, mais de metade dos alunos seguem para a licenciatura.
Formado por professores da ESECS e colaboradores externos, inclui curadores de museus, gestores de empresas turísticas e especialistas em áreas como antropologia, história e ambiente. Essa integração entre academia e mercado garante que os conteúdos sejam relevantes e atualizados, respondendo diretamente às necessidades regionais.

“É um curso que promove os fundamentos da música, da criação, da composição, da performance, da formação musical, em simultâneo com uma abordagem tecnológica”
Sandrina Milhano,
Docente e coordenadora do TeSP Música Digital (IPLeiria)
Os desafios do TeSP estão intimamente ligados à comunicação e à conscienlização sobre o potencial turístico da região. “Muitos turistas não sabem o que é Leiria”, observa. Para isso, é essencial criar iniciativas que promovam o envolvimento com a comunidade e incentivem estadias prolongadas.
Praias, trilhos naturais e fenómenos como o bird-watching são recursos que podem ser explorados de forma sustentável. As grutas, por exemplo, representam uma convergência entre património cultural e natural.
O curso já demonstra um impacto positivo. A proposta de classificação da “Procissão dos Caracóis”, no Reguengo do Fetal, Batalha, como Património Imaterial Nacional, é um exemplo e evidencia o papel proativo da instituição no fortalecimento do tecido cultural regional.

Negócios Digitais
Num mundo de negócios cada vez mais digital, é neste contexto que, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), do IPLeiria, surge o TeSP em Negócios Digitais, que visa preparar técnicos aptos a acompanhar nas empresas as mudanças digitais: a transformação digital de negócios; a implementação de estratégias de e-commerce e marketing digital; a produção de conteúdos digitais; e a análise de dados para suporte à decisão.
“É um profissional que deverá desenvolver competências específicas para criar, planear, coordenar, executar e acompanhar operações de transformação digital dos negócios”, explicou a coordenação do curso, por email. Além disso, o TeSP encontra-se alinhado com a Estratégia Regional de Especialização Inteligente do Centro, reforçando a sua relevância para áreas como tecnologias digitais e produção inovadora.
Na primeira edição, em 2024/2025, contou com 25 alunos, predominantemente jovens provenientes do ensino secundário e residentes na região de Leiria. As principais motivações incluem a atualização de conhecimentos e o desejo de adquirir competências técnicas que abram portas no mercado de trabalho.
“As principais expectativas em relação ao estágio incluem ter uma experiência prática, conhecer o mercado de trabalho e adquirir conhecimentos aplicáveis”, revela a mesma entidade, num curso coordenado pela docente Helena Alves. As principais saídas profissionais incluem cargos como gestor de negócios digitais, analista de dados, técnico de marketing digital e especialista em transformação digital, mas também se espera que uma parte significativa dos estudantes prossiga para licenciaturas, como Gestão, Marketing ou Comunicação e Media.
“Os futuros técnicos de Negócios Digitais serão uma mais-valia no aproveitamento das potencialidades dos sistemas integrados de gestão já disponíveis nas empresas”, destaca-se na descrição do curso. Essa perspetiva atrai tanto pequenas quanto médias empresas, que procuram profissionais capazes de impulsionar os seus negócios no mundo digital.
Um dos maiores desafios deste TeSP será manter-se atualizado face às rápidas mudanças tecnológicas. A Inteligência Artificial (IA), as plataformas digitais emergentes e as novas tendências de mercado exigem constante revisão dos conteúdos programáticos. Outro ponto crítico será fortalecer a ligação entre o curso e o tecido empresarial regional, promovendo parcerias que facilitem a empregabilidade dos alunos após a conclusão do curso.
Dar asas ao futuro com tecnologia e inovação
A aposta em cursos com elevada empregabilidade e adaptados às necessidades regionais torna-se essencial. O Instituto Superior D. Dinis (ISDOM), na Marinha Grande, tem a sua oferta formativa alinhada com o tecido industrial e empresarial da região, promovendo uma ligação estreita entre o ensino superior e o mundo profissional. Assim, o ISDOM tem cursos com forte enfoque nas áreas dos moldes, indústria e gestão.
“A qualificação dos nossos alunos é reconhecida pelos empregadores, e a procura por profissionais formados no ISDOM tem vindo a crescer”, afirma a diretora da instituição.
Cristina Simões sublinha que “os estágios em contexto real de trabalho permitem aos alunos aplicar os conhecimentos adquiridos, enquanto as empresas comprovam a qualidade do ensino ministrado”.
Entre os Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) disponíveis, destacam-se Automação e Produção Industrial; Comércio Internacional; Design de Produto; Gestão da Produção Aeronáutica (o mais recente); Projeto de Moldes (com forte ligação ao cluster regional) ou Sistemas Mecatrónicos e de Produção.
Cristina Simões realça que “o curso de Gestão da Produção Aeronáutica surge como resposta às necessidades do sector, contribuindo para o desenvolvimento de um cluster aeronáutico em crescimento”.
Esta instituição tem vindo a expandir a sua influência, atraindo estudantes não só da região de Leiria, mas também de outros pontos do país e do estrangeiro, como Ucrânia, França, Cabo Verde e Brasil.
“A internacionalização é uma aposta clara, assim como a ligação às empresas”, refere a diretora.
O ISDOM mantém parcerias com um número de empresas bastante abrangente, facilitando estágios e projetos colaborativos. “Os nossos alunos saem preparados para os desafios do mercado, com competências técnicas e capacidade de inovação”, acrescenta.
Perante as rápidas transformações tecnológicas, o ISDOM tem investido em infraestruturas digitais e metodologias de ensino inovadoras, como o Collaborative Online Learning. “Procuramos antecipar as necessidades do mercado, criando cursos que respondam às exigências das empresas”, explica Cristina Simões.
A localização na Marinha Grande, um pólo industrial de excelência, tem sido determinante para o sucesso da instituição. “A proximidade com empresas líderes permite aos alunos contactar com a realidade profissional desde cedo, o que se reflete nas elevadas taxas de empregabilidade”, conclui.
Veículos Elétricos e Híbridos
Desde 2017 que o curso TeSP em Veículos Elétricos e Híbridos tem formado técnicos capacitados para atender às necessidades emergentes do sector automóvel, numa iniciativa conjunta entre os departamentos de Engenharia Eletrotécnica e Engenharia Mecânica, do IPLeiria. O TeSP surgiu como resposta ao crescimento exponencial da mobilidade elétrica e híbrida. A região carecia de oferta formativa específica nesta área e atualmente o curso atrai maioritariamente estudantes do ensino secundário.
O objetivo é formar técnicos especializados em manutenção, diagnóstico e preparação de veículos elétricos e híbridos. Os alunos aprendem sobre sistemas de tração, baterias, carregadores e segurança. Além disso, adquirem conhecimentos transversais sobre motores de combustão interna, garantindo versatilidade no mercado de trabalho.
Os estudantes são introduzidos a disciplinas fundamentais como Matemática, Física, Química e Comunicação e, à medida que avançam, mergulham em conteúdos específicos, como Eletrónica, Máquinas Elétricas e Sistemas de Segurança. “É um curso muito prático”, explica o coordenador do curso, Nuno Lopes. “Os alunos passam grande parte do tempo em laboratórios, realizam diagnósticos e operam equipamentos utilizados em oficinas reais”.
O estágio é uma oportunidade crucial para os alunos aplicarem os conhecimentos adquiridos em empresas parceiras. Este contacto com o mercado de trabalho tem revelado resultados positivos e muitos acabam por ser contratados após o término do estágio, pois estão aptos a trabalhar em oficinas especializadas, reparam sistemas elétricos, mecânicos e eletrónicos, ou até mesmo em empresas de reparação de baterias.
Cerca de 30% a 40% dos alunos prosseguem para licenciaturas, o que reflete, realça, a solidez da formação oferecida, que serve tanto como trampolim para o mercado de trabalho como para percursos educativos mais avançados.
E há desafios: a frota de veículos elétricos representa apenas uma fração do parque automóvel nacional. Além disso, “Portugal carece de uma marca automóvel própria, algo que limita a capacidade de competir com potências como a China, Alemanha e Estados Unidos”, refere o coordenador.

“A nossa prioridade é que eles tenham uma formação de qualidade e saiam aptos a integrar o mercado de trabalho.”
Patrícia Borges,
Chef e coordenadora do TeSP de Cozinha e Produção Alimentar (IPLeiria)
Para se tornar mais autossuficiente, “o país poderia apostar no desenvolvimento de tecnologias relacionadas com baterias, semicondutores e componentes eletrónicos”, diz. “A criação de produtos diferenciadores e de qualidade poderá ser o caminho para Portugal conquistar relevância num mercado global altamente competitivo”, antecipa Nuno Lopes.
Secretariado Clínico
Tem funcionado em horário diurno no polo do IPLeiria de Pombal e agora chega a Leiria, por enquanto, em regime pós laboral. Numa era onde a saúde se tornou um dos pilares mais discutidos da sociedade, especialmente após eventos globais como a pandemia de Covid19, o papel do técnico especialista em Secretariado Clínico ganha relevância.
O TeSP em Secretariado Clínico apresenta-se como uma formação que une competências técnicas e humanas para responder aos desafios atuais da área da saúde. “Acho que pode ter um papel integrador”, explica Vanda Pedrosa, docente e coordenadora.
O Secretariado Clínico exige uma compreensão abrangente das dinâmicas hospitalares e clínicas. “Hoje em dia, os desafios são muito maiores. Temos a questão dos sistemas de informação, procedimentos, processos de referenciação,” destaca, reforçando que o grau de complexidade vai além do que muitos imaginam.
O curso valoriza fortemente as chamadas “valências humanas”. Falar com pacientes que enfrentam doenças graves, entender necessidades específicas de idosos ou lidar com questões éticas faz parte do dia a dia destes profissionais. A literacia em saúde surge então como uma unidade curricular essencial, tal como conhecimentos em anatomia e fisiologia, redação de documentos médicos e até comportamento organizacional.
Os feedbacks de antigos estudantes revelam-se bastante positivos. Cerca de 80% dos alunos de uma turma decidiram prosseguir estudos superiores, beneficiando das equivalências proporcionadas pelo TeSP. Quanto ao estágio curricular, Vanda Pedrosa constata que percebem o impacto direto da formação: “Eles aplicam na prática os conceitos que aprenderam em aula”.
Entre os desafios futuros, a Inteligência Artificial (IA) emerge como uma preocupação central. Embora reconheça que algumas tarefas possam ser automatizadas, a docente defende que isso deve ser visto como uma oportunidade. “Não acredito que vamos ser extintos, mas vamos ter de repensar”, afirma, sugerindo que a IA pode libertar tempo para atividades mais estratégicas e interpessoais.
Outro grande desafio é a valorização da profissão. O secretariado clínico ocupa uma posição crucial na gestão diária de consultórios, hospitais e clínicas. Gerem salas de espera, interagem com seguradoras (o que pode ocupar bastante tempo) além de lidar com questões administrativas complexas e de vária ordem. “São as primeiras pessoas com quem lidamos” lembra Vanda Pedrosa, ressaltando a necessidade de maior reconhecimento social e profissional.
Design para Media Digitais
Numa era em que a presença digital se tornou indispensável, o TeSP de Design para Media Digitais surge como uma resposta prática e inovadora às exigências do mercado. O programa é ministrado pela ESAD-CR, em Caldas da Rainha, mas também com vagas no polo de Torres Novas, do Politécnico de Leiria. Embora seja uma formação técnica, o curso apresenta uma abrangência que vai além do design gráfico tradicional. Os estudantes também têm contacto com áreas como a animação, onde ampliam competências.
O corpo docente é composto por professores que também lecionam na licenciatura de Design Gráfico e Multimédia, um dos cursos mais reconhecidos da instituição de Leiria. “Os alunos acabam por ter esta grande vantagem de poder ter algum acesso a este conhecimento científico do corpo docente do curso principal”, esclarece António Costa, coordenador do curso.
No entanto, a designação Design para Media Digitais pode não ser suficientemente clara para muitos candidatos. “Às vezes, eles próprios não têm bem noção do que é isto”, comenta, sugerindo que a falta de compreensão sobre o escopo do curso pode afetar a sua popularidade. Além disso, o interesse dos alunos mais jovens tende a concentrar-se em áreas mais visíveis, como Moda e Arquitetura. “Têm mais interesse nas áreas que com mais visibilidade, que têm mais mediatismo”, explica.
Também é de desafios de outra ordem que este curso enfrenta. Embora ferramentas de IA estejam a transformar o design digital, a sua aplicação ainda gera discussões. Para o docente, a IA deve ser vista como uma ferramenta complementar, não como uma ameaça. “Às vezes a arte artificial consegue isso. Não é uma substituição completa, mas pode ser uma ideia esquemática, visual, que se vai buscar ali”, argumenta.
No entanto, há preocupações quanto aos limites dessa tecnologia. A uniformização e a padronização excessiva são riscos apontados pelos especialistas. “Há uma dimensão humana de imprevisibilidade, de caos e de aleatório, que a IA acaba por não introduzir”, explica António Costa. Além disso, a criação de narrativas falsas ou conteúdos enganosos é outra questão crítica. “Também cabe aos professores poderem conseguir desmontar isto e desmontar o tipo de utilização que é dada a esta ferramenta”, conclui.
Pedro Miguel Carvalho