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A Corda: “O Estado a que chegámos”

Salgueiro Maia deixou-nos no dia 4 de Abril de 1992 e há anos que o continuamos a humilhar.

Rui Costa, músico rui.costa@regiaodeleiria.pt

Salgueiro Maia deixou-nos no dia 4 de Abril de 1992 e há anos que o continuamos a humilhar. Esta grande figura da nossa história licenciou-se em Ciências Políticas e Sociais, depois de ter contribuído para libertar o país de uma ditadura, e não obteve qualquer equivalência. Portugal tem uma enorme tendência para esquecer pessoas corajosas e íntegras, que não se vendem! Estas pequenas coisas fazem-me perder a paciência e sentir imensa vergonha da minha nacionalidade. Sinto vergonha de Relvas, cuja carreira académica é baseada numa enorme vigarice e que foi o grande criador de Passos Coelho como presidente do psd e como primeiro ministro. Como é que é possível que um avental possa dar uma licenciatura a alguém sem estudar? Como é que podemos levar a sério o produto da sua criação, Passos Coelho? Eu não consigo, dá-me náuseas ter uma figura destas à frente dos destinos deste país! Também me revolta um Eduardo Catroga a representar o partido do actual Governo nas negociações com a Troika e depois a aparecer milagrosamente como presidente do Conselho Geral duma EDP, privatizada com a ajuda do mesmo e altamente favorecida com rendas demasiado elevadas, segundo a própria Troika. Sinto vergonha dos incompetentes que nos têm governado estarem a culpabilizar a nossa Constituição, que defende os direitos e liberdades fundamentais de todos nós, pelas suas próprias falhas. Como é que é possível que se possa tentar violar a Constituição e não se tente alterar os contratos com as Parcerias Público-Privadas? Como é que esses contratos podem valer mais que a nossa Constituição? Porque é que a Galilei, outrora conhecida por Sociedade Lusa de Negócios, continua a fazer altos negócios e a existir como se não tivesse origem no BPN? Como é que este povo não se revolta? Salgueiro Maia disse na madrugada de 25 de Abril de 74 que “há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos!” Nunca nos poderemos esquecer destas palavras.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado a 11 de abril de 2013)