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Ansiolítico urbano: Quero dizer uma coisa!

Nas medinas do norte de África vi miúdos a jogar à bola em ruas de metro e meio. Vi-os marcar golos em balizas imaginárias ou em ruínas. E vi-os, sempre, invariáveis a essa sorte, ativos, astutos e alegres.

Ana Bonifácio, arquiteta urbanista ab@anabonifacio.com

Nas medinas do norte de África vi miúdos a jogar à bola em ruas de metro e meio. Vi-os marcar golos em balizas imaginárias ou em ruínas. E vi-os, sempre, invariáveis a essa sorte, ativos, astutos e alegres. Não é preciso, claro, ir tão longe para os ver criar e recriar num ápice (e sem queixume) aquilo que mal conhecem. Felizmente!

Do total mundial de habitantes em meio urbano, mil milhões são cidadãos de palmo e meio. Mas, diga-se: não é líquido que às crianças que crescem em áreas urbanas lhes sejam dadas mais oportunidades que às restantes. (Discuta-se, pois, o significado de “oportunidade”!) Há disparidades acentuadas em territórios diferentes igualmente urbanos. Crescer na cidade não significa, por isso, produzir “adulto completo”. E não é preciso extremar e recordar o perigo de crescer em territórios que são palco de conflitos armados. Basta estar à mercê de políticos que “brincam às cidades”.

Em 1996, para promover uma resolução das Nações Unidas, foi criada a iniciativa Cidades Amigas das Crianças. Dos 867 municípios do mundo que aderiram à iniciativa, 13 são portugueses. Da sua agenda constava, como prioridade, promover a participação ativa destes cidadãos. Onde estão os resultados?

É urgente criar na esfera pública lugar onde estas pessoas baixinhas falem e sejam ouvidas. Queremos crianças com ação política e não políticos com ação infantil.

(texto publicado na edição em papel de 1 de junho de 2012)