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Cândido Ferreira

Médico

Coronavírus – Uma ameaça real

Mais cedo ou mais tarde tinha de acontecer. Não se trata de mais uma variante da velha história do pastor néscio a quem, por enganar o povo com falsos alarmes, ninguém acudiu quando os lobos o atacaram.

Desta vez é para levar a sério e nem existe espaço para as habituais teorias da conspiração, sempre alimentadas por mentes paranoides ou ávidas de fama. A ciência demonstra que os micro-organismos com que coabitamos estão em permanente evolução e que uma nova variante de gripe, surgida na China, depressa ganhou foros de pandemia.  E perante a maior peste que a Humanidade jamais enfrentou, desde a descoberta das vacinas e dos antibióticos, ainda nem há previsões sobre a sua evolução.  

As variáveis são imensas e ninguém sabe ao certo o que por aí vem. Resta aguardar que o vírus se dilua, ou que surjam novos meios para o combater, enquanto o olho da tempestade se aproxima e vamos pondo trancas nas portas. Com realismo, resta à Saúde e à Medicina ganhar tempo e evitar uma mortandade geral que, no nosso país, poderá atingir centenas de milhares de cidadãos.

Tudo quanto sabemos é que se aproxima um “furacão” muito mais ameaçador que o “Leslie” e que é gigantesco o desafio que temos pela frente. Daí que, a par e passo com a toma de medidas cautelares, seja obrigatório proceder a um debate sereno e livre de indesejáveis aproveitamentos políticos ou corporativos, impeditivos de boas práticas.  

Portugal tem pois de armar com urgência os seus hospitais e escolas, os lares de idosos e prisões, a hemodiálise, as farmácias e os diversos centros de diagnóstico e de tratamento. O desfecho deste combate é ainda muito incerto e também os médicos e enfermeiros, administrativos, técnicos e auxiliares de saúde, transportadores e todos quantos se encontram na linha da frente deverão preparar-se para aquela que pode vir a ser a mais heroica batalha das nossas vidas.

De momento, para além de apelar ao sentido de cidadania dos portugueses, resta-me saudar a serena e atenta postura assumida pela atual responsável pela DGS, afinal a ilustre sucessora de um também excelente profissional. E também desejar que o seu sábio guião venha a ser interpretado de forma eficaz e sensata, por todos os atores desta peça.