Anda tudo com medo do corona. O corona é um vírus que apareceu na China e já deu mais do que falar do que tudo o que possam imaginar. Mais do que o Brexit, que o Trump ou o Putin e ainda mais que o ambiente e o aquecimento global. Parece ser agressivo, mas a taxa de mortalidade deve rondar os 4%. O que é muito se pensarmos na gripe, e muito pouco se pensarmos no Ébola. Teve o seu epicentro na China, mas como tudo o que é chinês já se disseminou por aí, embora em muito pequena escala.
Se por um lado a minha inconsciência não dê para sentir prazer nesses riscos e fenómenos, por outro lado tenho de confessar, o prazer que é sentir os humanos juntos numa luta só. Só uma coisa que nos pode pôr em perigo nos consegue juntar. Às vezes é bom sentir a nossa incapacidade em vencer, pelo menos no imediato, estas batalhas para darmos mais valor à nossa fragilidade como humanos. A imprevisibilidade da vida é uma constante em todas as vidas e basta olharmos para o lado ou mesmo para a nossa existência para constatarmos quão frágil é o “está tudo bem”, não se passa nada. Uma doença, um problema no emprego, um acidente, um incêndio, um divórcio, uma morte e tudo muda. Mas o que nos une é esta espécie de trincheira comum contra o Corona. Uns estão lá mais perto da batalha e os que estão mais longe sempre desconfiam que o inimigo os pode também atingir. Nas grandes dificuldades ficamos mais sãos, mais nobres, mais focados no importante e ao mesmo tempo mais cooperantes uns com os outros, que sabemos que só assim nos podemos safar.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Os cientistas são valorizados mais do que os futebolistas (olhem que eu sou fã do Ronaldo) e os médicos e os profissionais de saúde de uma forma geral passam rapidamente de desumanos, agiotas a gente de bem que arrisca a sua própria vida em prol dos outros.
É interessante que todos nós façamos uma reflexão nestes tempos instáveis e que aprofundemos a nossa condição de humanos. É aquela velha reflexão do que o que não nos mata torna-nos mais fortes.
(Artigo publicado na edição de 6 de fevereiro de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)