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Corta-relvas: Isto só lá vai com botânicos

O que podemos esperar de Portugal em 2013, 2014 ou 2015, se o corta-relvas continuar a fazer de carrinho de choque numa feira de variedades?

João Pombeiro, jornalista e editor-executivo da revista LER pombeiro@gmail.com

1. Aproveito a estreia nas páginas do REGIÃO DE LEIRIA para, em primeiro lugar, agradecer o convite de Patrícia Duarte e, em segundo, confessar uma das minhas frustrações permanentes: gostaria de ter sido botânico, amador, profissional ou assim-assim. Mas o meu conhecimento de plantas e derivados continua, lamentavelmente, a equivaler a uma licenciatura com créditos garantidos à entrada na universidade. Por isso, hoje, mais do que nunca, acredito que só os botânicos nos podem ajudar a perceber com clareza o que será deste território “pós-troika”, depois da razia feita por um corta-relvas conduzido a passos de Coelho e ao som das previsões desafinadas do maestro Gaspar. Se a linguagem de economistas, políticos e consultores – que teimam em retratar o que mexa com um prefixo mágico (re-qualquer coisa) – esbarra na soleira da porta do comum dos mortais (quando lá chega), a minha última esperança reside neles, botânicos.

Ex­pliquem-me, por favor e pelas alminhas de São Leocácio, o mistério que me atormenta: o que nasce, ou o que ainda pode nascer, em terra muito árida (resultado de meses, anos, sem pingo de rega e atafulhada em impostos), onde se tentam arrancar as poucas raízes que restam?

Ou melhor: o que podemos esperar de Portugal em 2013, 2014 ou 2015, se o corta-relvas continuar a fazer de carrinho de choque numa feira de variedades? Eu tenho uma previsão que rima com Roberto e que é sinónimo de Margem Sul para o ex-ministro Mário Lino. Mas isso sou eu, que nada sei de botânica.

Nos próximos meses, tentarei acompanhar as voltinhas deste corta-relvas – do original, previsto pela dupla Passos-Gaspar, e das cópias distribuídas, que tanto andam por aí como por aqui, em Leiria. E, claro, como não podia deixar de ser, já encomendei o melhor manual de botânica. Dizem-me da livraria que chega no dia 2 de Março.

2. Em Julho de 2002, Feliciano Barreiras Duarte, político leiriense, então secretário de Estado adjunto do ministro da Presidência, aproveitava o lançamento do seu livro Leiria – Gigante Económico, Anão Político para fazer uma declaração de interesses à extinta revista Focus: “Como católico que sou, acho que Deus me iluminou para defender esta região. Para, de sabre na mão, cortar as ervas e as silvas do caminho”.

Não sei o que Feliciano Barreiras Duarte conseguiu cortar, mas o seu sabre pode dar muito jeito quando um dia quiser cortar as “ervas e silvas” que farão, certamente, companhia às resilientes moscas na mais estapafúrdia decisão que Leiria conheceu na última década: o estádio Taveira.

Escrito de acordo com a antiga ortografia.

(texto publicado a 28 de fevereiro de 2013)