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Crónica irregular: O Estado a que chegámos!

“Meus senhores há diversos Estados. Os sociais, os corporativos e o Estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o Estado a que chegámos!”.

Amilcar-coelho
Amílcar Coelho, presidente da UGT – União de Leiria e soldado de Abril amilcarcoelho@gmail.com

“Meus senhores há diversos Estados. Os sociais, os corporativos e o Estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o Estado a que chegámos!”. Na véspera do 25 de Abril, foi assim que o meu Capitão anunciou a acção de libertação: “Quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto”. Volvidos 40 anos, o Estado a que chegámos voltou a “borregar”: derrocada do “social”, por via da tragédia do desemprego e do colapso da justiça e da solidariedade (saúde, etc,). De um cortar impiedoso, os dedos já se foram, trucidados pela crise, quanto aos anéis, deles nem a sombra restou. Sobreviver é o que toda a gente almeja. O quadro ainda poderá piorar, mas tão negro como ele só a imagem de um futuro que aí é negado: mais de um milhão de desempregados; mais de meio milhão com fome (para cima de 25% vivem com menos de 414 euros por mês; 375 mil crianças que entram na escola vêm de famílias onde a pobreza é extrema…). E, perante esta situação totalmente deprimente, o que é que mobiliza os responsáveis do Estado a que chegámos? Resposta: O lado politiqueiro das comemorações – se incluem ou excluem esta ou aquela personalidade? Se dão a palavra a esta ou àquela associação? Capitão, meu Capitão: perante o Estado a que chegámos, haverá alguém que esteja interessado apenas em palavras e mais palavras?

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 17 de abril de 2014)