Tinha prometido a mim mesmo não falar do Museu de Leiria. Já tudo foi dito.
Manuel Leiria, neste mesmo jornal, numa única coluna, sintetizou irrepreensivelmente a saga do “não-museu”, que dura vai para cem anos.
Ainda assim não resisto:
– Na criação de um museu deve identificar-se rigorosamente o que se tem, o que se quer e o que se pode; no plano ideal, a implementação de um bom museu deve ter garantida a existência de três condições: um espólio significativo, uma boa ideia congregadora (que permita ou potencie a estruturação de um núcleo temático museológico cativante e motivador) e instalações adequadas.
Em Leiria, a exiguidade das instalações previstas (Convento de Santo Agostinho) condicionará desde logo a existência de um grande museu, porque aí só será possível implementar um “museuzinho”.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Convenhamos: o espólio existente não é particularmente significativo e a sua qualidade é relativa. Nada de desprestigiante, nem nada que impeça construir um excelente pequeno museu que possa cativar alguns milhares de visitantes. Os melhores espaços museológicos que conheço são “pequenos” museus e têm coleções minimalistas.
Mas ainda nos resta a possibilidade de pensar um projeto com dimensão nacional, partindo de um tema agregador que o distinga e o saliente dos demais. Com algum fundamento o Prof. Vitorino Guerra tem chamado a atenção para a oportunidade (talvez já perdida) de criar em Leiria um “Museu Nacional da Imprensa”. Historicamente justificava-se cativá-lo na cidade: aqui funcionou uma das primeiras fábricas de papel, aqui laborou uma das primeiras tipografias. Com facilidade e com baixos investimentos esse espaço poderia ter recebido um espólio fantástico, vindo de todo o país. Até mesmo um “Museu das Artes da Imprimissão” poderia revelar-se de um interesse nacional incontornável. E justificadamente esse tema unificador poderia integrar os núcleos museológicos existentes.
Ocorre-me entretanto outro tema agregador, o mesmo que colocou Leiria nas “bocas do mundo” e motivou um excelente documentário da BBC: o Menino do Lapedo. Um museu que a partir da centralidade dessa descoberta falasse do Neanderthal, da evolução do Homem, da Pré-História, seria certamente um museu interessantíssimo, motivador da investigação, com grandes potencialidades didáticas e pedagógicas e imensa capacidade atrativa junto de todos os níveis etários.
Mas fico por aqui. Ideias não faltam e eu prometi não falar deste assunto. Se esperarmos mais uns anos Leiria poderá até acolher algo inédito no mundo: O Museu das Ideias para um Museu.
(texto publicado na edição em papel de 13 de julho de 2012)