De cada vez que o nosso jornal publica uma notícia online sobre a Covid-19 é como se detonasse uma bomba. Foi assim na primeira vaga da pandemia, está a ser assim na segunda.
Seja a mais grave das notícias ou a mais inofensiva das informações, o resultado é igualmente devastador. Os comentários que a partir daí se desencadeiam, sobretudo na rede social Facebook, são de uma maldade e de uma violência que nos deixam aturdidos.
Num primeiro instante, estas reações suscitam-nos revolta. Num segundo momento, o pensamento que nos ocorre é outro: “quem são as almas – e são tantas – por detrás daqueles comentários escabrosos, carregados de rancor e ódio?”, “o que as leva a escrever assim?”, “qual é a sua circunstância?”.
Algo se está a passar com as pessoas e não é bom. Esta agressividade não é um exclusivo do mundo virtual. É igualmente visível nos outros contextos onde nos movemos.
Não obstante essa evidência, quem está efetivamente a prestar atenção ao impacto psicológico da Covid-19? Quem está a dar resposta aos distúrbios da saúde mental na mesma medida em que cria pontos de rastreio, equipa hospitais, distribui máscaras e comunica hábitos de higiene?
As linhas telefónicas de apoio psicológico criadas, nomeadamente pelos municípios, não são suficientes para combater os efeitos de tantos meses de ansiedade, angústia e medo. E esse apoio é crucial para nos mantermos firmes no esforço de zelar pela nossa segurança e pela dos outros, sem garantias de sucesso e sem fim à vista.
Além de um comportamento agressivo, as pessoas estão a desistir. Estão a desistir para sobreviver. O que se passou na Nazaré é disso exemplo. Estão cansadas da pandemia, dos sacrifícios e privações a que ela obriga, dos planos que destruiu, das relações que despedaçou, da indefinição que gerou em todas as dimensões da vida.
“Parem o mundo que eu quero sair”. Nunca o título daquele musical dos anos 60 se ajustou tanto à realidade. Infelizmente, não há como parar, nem há como sair. Só nos resta ficar. Mas sem apoio psicológico muitos de nós ficarão insanos. Nessa ocasião, contrair Covid-19 será o mais pequeno dos males.