Assinar
Rosto de José Vitorino Guerra

José Vitorino Guerra

Tempo incerto: A linha da Frente

Putin precisa, cada vez mais, de uma vitória rápida na Ucrânia e vai utilizar todos os meios para a alcançar. Como afirmou: “o pior ainda está para vir”.

A actual Ucrânia nasce da implosão da URSS e da aprovação em referendo da sua independência, aprovada por 92,3% da população, em 1991. A Rússia reconheceu o novo Estado que é membro da ONU e de outras organizações internacionais. A Ucrânia não ameaçava a Rússia ou a segurança europeia, não é membro da NATO, tendo a sua adesão sido vetada em 2008. Não possui armas nucleares, entregou 1600 ogivas à Rússia na sequência do Memorando de Budapeste (1994), a troco do reconhecimento da soberania e das fronteiras ucranianas. Tem outros acordos bilaterais com a Rússia.

Nada justifica a invasão russa nem a guerra que move contra a Ucrânia e o seu povo. Putin acalenta a nostalgia do expansionismo da Rússia imperial ou de Estaline e ambiciona o reconhecimento de um novo estatuto internacional. Pretende redefinir fronteiras através da força e alargar o seu território, violando o direito internacional, a Carta da ONU e a soberania dos Estados.

Putin, apesar da fragilidade da economia russa, com um PIB inferior ao da França, reorganizou as forças armadas e rearmou os seus arsenais nucleares e convencionais. Realizou intervenções armadas na Tchétchénia, na Geórgia, na Síria, no Leste da Ucrânia e anexou a Crimeia.

Emprega na Ucrânia as tácticas cruéis que ensaiou na Tchétchénia e na Síria e recorre aos mercenários do Grupo Wagner. Agita a pretensa ameaça da OTAN, enrolada em intimidação nuclear aos seus membros. Esqueceu-se que integra o Conselho OTAN-Rússia, que vendeu sofisticado equipamento de defesa à Turquia e encomendou navios de guerra à França e blindados à Itália, membros da OTAN. Encomendas abortadas após a anexação da Crimeia. Pródigo no cinismo político e na mentira, Putin garantia, nas vésperas da invasão, que nunca a Rússia provocaria uma guerra na Europa.

Subavaliou a capacidade de resposta das democracias ocidentais, bem como a coragem e a resistência dos ucranianos que estão a afirmar no campo de batalha a sua identidade nacional. Nem os ucranianos nem os restantes países vão esquecer a agressão bélica de Putin, que envergonha o povo russo e representa a principal ameaça à Paz.

Precisa, cada vez mais, de uma vitória rápida na Ucrânia e vai utilizar todos os meios para a alcançar. Como afirmou: “o pior ainda está para vir”.

Escrito de acordo com a antiga ortografia