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Tempo incerto: Negócios de armas

Desde 2001, sucessivos governos compraram diversos tipos de material militar para satisfazer os requisitos operacionais das Forças Armadas.

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José Vitorino Guerra

Desde 2001, sucessivos governos compraram diversos tipos de material militar para satisfazer os requisitos operacionais das Forças Armadas. Muito do equipamento era indispensável, outro deixa sérias dúvidas sobre a razão das opções tomadas.

Algumas das aquisições, como no caso dos submarinos e dos blindados Pandur II(8×8), permanecem envoltas em processos polémicos e que deram azo a queixas na Procuradoria. Os contratos efectuados previam vultuosas contrapartidas para a economia portuguesa, de valor não inferior ao despendido nas aquisições. Na prática, e face às responsabilidades contratuais assumidas, Portugal terá sido lesado em mais de dois mil e duzentos milhões de euros de compromissos não concretizados.

Por outro lado, foram anulados contratos, em virtude da crise financeira, como o dos helicópteros NH90 para o Exército, quando já se tinham investido 87 milhões de euros neste programa.

Um outro caso polémico é o da aquisição dos blindados Pandur II. Em 2005, após um concurso internacional em que participaram uma empresa finlandesa e duas subsidiárias europeias da General Dynamics, a Steyr, austríaca, e a Mowag, suíça, o governo contratou à Steyr 260 blindados no valor de cerca de 360 milhões de euros. Na altura, o Pandur II era praticamente um protótipo, sem mercado internacional, e que apresentou, na fase de ensaios e depois da entrega das primeiras viaturas, diversos defeitos técnicos.

A Steyr, em parceria com a subcontratada portuguesa Fabrequipa, devia ter entregue os blindados até 2009. Sucessivos atrasos e a existência de defeitos não corrigidos em tempo útil levaram o actual governo à resolução do contrato de fornecimento de 128 Pandur II, em 2012. Em relatório recente, o Tribunal de Contas esclarece, ainda, que no final de 2013, as contrapartidas contratualizadas com a Steyr apresentavam uma taxa de execução de 17%.

Face às verbas envolvidas e à natureza controversa de muitas das opções tomadas, é imperativo que o poder político e os partidos envolvidos esclareçam a opinião pública sobre o que se tem passado com o negócio dos equipamentos militares para as Forças Armadas, bem como dos motivos da incapacidade do Estado fazer cumprir os contratos que assina com empresas americanas e europeias.

Escrito de acordo com a antiga ortografia.

(texto publicado na edição de 27 de fevereiro de 2014)