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Ilustração do rosto de Patrícia Duarte

Patrícia Duarte

Diretora-adjunta do REGIÃO DE LEIRIA

Viagem ao nosso interior

Há quem viaje para o estrangeiro durante anos e ignore a beleza do património cultural e natural que nos envolve.

Limitadas que estão as viagens ao estrangeiro, é cá dentro que teremos de expandir a nossa vontade de “desconfinar” em férias.

Se nos parecer demasiado perto de casa, vale a pena lembrar que a qualidade do lazer mede-se menos pela distância do cenário e mais pelas experiências que proporciona. E à nossa porta, está uma região incrível para descobrir.

Há quem viaje para o estrangeiro durante anos e ignore a beleza do património cultural e natural que nos envolve. Deslumbramo-nos por esse mundo fora sem ter sentido a imponência da Fórnea ou admirado o encanto único de Chão das Pias; sem confirmar a obra de génio que é a abóbada da Sala do Capítulo ou perceber por que razão são imperfeitas as capelas; sem apreciar como um dos bastiões do Estado Novo se tornou símbolo de liberdade ou mergulhar no azul límpido que contorna as nossas ilhas.

Está tudo aqui, nesta região e neste distrito que são de uma riqueza e diversidade invejáveis.

Viajar dentro do país é viajar no nosso próprio interior. É ir ao encontro da cultura que herdámos, do que construiu e molda a nossa identidade, do que nos explica e dá sentido ao que somos. Nem tudo está nos manuais de História.

No discurso que proferiu na cerimónia do 10 de Junho, Tolentino Mendonça afirmou que “desconfinar não é simplesmente voltar a ocupar o espaço comunitário, mas é poder, sim, habitá-lo plenamente, poder modelá-lo de forma criativa, com forças e intensidades novas”.

Esse é um passo que não podemos dar sem conhecermos o território por dentro, as suas riquezas e as suas carências. Tomar parte na construção de um país menos assimétrico implica uma imersão nas realidades que ignoramos, porque não é possível gostar e fazer progredir o que não se conhece.

Só com essas incursões ao nosso interior e com “o exercício deliberado e comprometido de cidadania”, como referiu Tolentino Mendonça, “Portugal será uma viagem que fazemos juntos. E uma grande viagem é como um grande amor”.