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Células estaminais entre a dúvida e a esperança

O potencial das células estaminais resulta de apresentarem a qualidade única de originar as diferentes células essenciais para o funcionamento saudável do organismo.

A promessa chega das empresas que cuidam da criopreservação de células estaminais: se guardar o sangue do seu filho agora, poderá ajudar a curá-lo no futuro. Uma ideia tão poderosa inquieta até o mais céptico dos espíritos – afinal, quem arrisca privar a descendência de todas as hipóteses, mesmo as mais remotas, na luta contra a doença?

Apesar de toda a esperança que lhe é associada, a técnica mantém-se nos primeiros estágios de exploração pela comunidade científica. E está por demonstrar, ainda, toda a amplitude da sua aplicação curativa em seres humanos. Mas, dado que basta recolher uma porção de sangue do cordão umbilical, cada vez mais progenitores guardam as dúvidas e apostam nas certezas: o laboratório Crioestaminal, que surgiu em 2003 e se apresenta como pioneiro em Portugal, tem tido crescimentos na ordem dos 30% ao ano.

O potencial das células estaminais resulta de apresentarem a qualidade única de originar as diferentes células essenciais para o funcionamento saudável do organismo. Ou seja, especializam-se, durante o desenvolvimento embrionário, evoluindo para células nervosas, do músculo cardíaco, da pele e dos glóbulos vermelhos, entre outras. Na idade adulta, reparam tecidos danificados e substituem as células que vão morrendo. Quanto ao sangue do cordão umbilical, é uma fonte de células estaminais com maior capacidade de diferenciação e superior poder proliferativo, por pertencerem a um ser em gestação, de acordo com a explicação da Bioteca, outra das empresas a operar nesta área.

O processo é muito simples: depois de recolhido o sangue do cordão umbilical na sala de parto, segue para um laboratório, onde as células são criopreservadas em tanques de azoto líquido, a uma temperatura negativa de 196ºC, por um período máximo de 25 anos. Na Crioestaminal, o preço de base ronda os 1.390 euros.

Em 2007, a Crioestaminal anunciou o primeiro transplante de células estaminais do sangue do cordão umbilical criopreservadas num banco privado português. De então para cá, o número subiu para seis, revela um dos administradores da empresa, Luís Gomes. “Têm sido publicados artigos científicos e avanços concretos na área”, afirma. “Não deixa de ser uma tecnologia recente”, mas “o futuro é muito promissor”.

A empresa anuncia um potencial de tratamento de mais de 60 doenças, enquanto a concorrente Bioteca informa que as promessas mais interessantes encontram-se na área da medicina regenerativa e no combate a diversos tipos de cancro e doenças genéticas.

Segundo João Ramalho-Santos, investigador do Centro de Neurociência e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, “as únicas células estaminais utilizadas clinicamente com sucesso comprovado e universal são as hematopoiéticas e (menos) do cordão umbilical, em ambos os casos para certas patologias, sobretudo de natureza sanguínea, com o restabelecimento da produção de sangue após quimioterapia, e no caso das segundas apenas em determinadas situações que têm a ver com a idade e o peso da criança”. Por outro lado, prossegue, “há algumas possíveis aplicações para cartilagem/osso, e muitos outros ensaiuos para diversas patologias, mas no início. O resto – curar diabetes, Alzheimer, Parkinson, etc., e saber se aguentam 20-40 anos – é especulativo”.

“As células do cordão umbilical não produzem necessariamente todas as células do nosso corpo”, assinala João Ramalho-Santos, referindo-se ao cordão umbilical como um material muito interessante e promissor para investigação, embora com alternativas: “Um seguro de saúde mais abrangente. Mas esta é uma posição estritamente pessoal”, conclui.

Cláudio Garcia

claudio.garcia@regiaodeleiria.pt

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