A quarta edição do Leiria Film Fest (LFF) continua por resolver um enigma: onde andam os filmes feitos por realizadores de Leiria? O festival internacional dedicado a curtas-metragens continua a crescer e a ganhar fama. Ma, sobretudo, fora da região e do país, o que intriga e preocupa a organização.
“Não sei se o festival criou algum tipo de anti-corpos e há pessoal que tem filmes e não concorre”, atira Bruno Carnide, em jeito de explicação. Não será isso: “Realmente não sei de filmes que sejam feitos aqui e que não concorram”.
A verdade é que Buno Carnide é dos realizadores da região que mais produz, mas por razões óbvias não concorre ao festival que organiza com Cátia Biscaia. “E depois temos o Pedro Neves, que tem feito longas, o Álvaro [Romão], que integra o júri e tem filmado pouco, e a Joana Bartolomeu, que faz animação e isso implica muito tempo de produção… Sobram muito poucos”.
Por outro lado, a comunidade conhece-se mal: ambos descobriram através do Cinemax um realizador de Alcobaça, Pedro Rilhó, que apresentará um filme na seleção que o programa RTP trará a Leiria, num dos vários momentos da programação do festival.
Ao quarto ano, esse é um dos maiores obstáculos para o LFF, que procura eleger a “Melhor curta-metragem leiriense”. O conceito “leiriense” até foi generosamente alargado, de Figueiró dos Vinhos até Tomar.
Mesmo assim, mantêm-se as dificuldades. “É uma questão que nos preocupa. Ou ninguém filma ou os filmes não entram no circuito”, aponta Bruno Carnide, lembrando o caso da ESAD.CR, onde estudou:
“Têm alunos que produzem todos os anos filmes mas não são distribuídos. Há outras escolas que o fazem; a ESAD continua sem o fazer”.
Outro aspeto delicado é a secção Documentário. “Os filmes não estão a acompanhar a evolução de qualidade das outras categorias”, considera Bruno Carnide.
A explicação talvez esteja no facto de “ser possível fazer um documentário sozinho” e “uma pessoa que acaba de estudar e quer filmar, não tem capacidade para formar uma equipa, e mais facilmente faz um documentário”. “Quando se faz tudo sozinho, mais facilmente a coisa pode correr mal”, acrescenta.
Em contrapartida, a qualidade dos filmes da Ficção é elevada. “Dava para fazer três ou quatro sessões só de ficção, sobretudo com os filmes internacionais”.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Com mais de 400 filmes inscritos, o LFF deste ano bateu recordes. E sem recorrer a plataformas de inscrição automática, sublinham. “Facilmente podíamos apresentar números de milhares, como outros festivais. Mas aqui quem se inscreve tem mesmo de saber para onde está a concorrer. Isso valoriza o festival”.
Sinal do interesse crescente é a presença, pela primeira vez, de um dos realizadores estrangeiros a concurso em Leiria. “Vários queriam vir, mesmo sem pagarmos a deslocação. Começa a haver mais interesse pelo festival e isso nota-se por aqui”, afirma Cátia Biscaia.
Na primeira edição, lembra, apenas um ou dois realizadores portugueses apareceram. “Agora vêm praticamente todos”.
Com o presente do LFF assegurado, Bruno Carnide e Cátia Biscaia pensam em dar-lhe asas. Gostavam que o festival funcionasse em permanência ao longo do ano, “com workshops, sessões com realizadores convidados e outras atividades”, como o Caminhos, de Coimbra.
“Mas era preciso ter uma pessoa em permanência e que a Câmara de Leiria estivesse disposta a isso”. Bruno, para já, está satisfeito: “Pelo menos conseguimos garantir a continuidade. Agora é tentar subir”.
Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt
Programa detalhado:
(Notícia publicada na edição de 9 de março de 2017. Programa publicado na edição de 16 de março de 2017)