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Leiria vai contar a história dos plásticos em Portugal

Espaço museológico da empresa  Baquelite Liz Foto: Joaquim Dâmaso

Uma exposição sobre a história do plástico está a ser preparada pelo Museu de Leiria e por uma equipa de investigação. A iniciativa pretende ser um passo importante para a criação de um acervo patrimonial na cidade-berço daquela indústria transformadora

É natural que já se tenha cruzado com a campanha de recolha de objetos de plástico, que está a ser promovida pelo Museu de Leiria. O objetivo é reunir o maior número de peças possível para que, em 2019, ali se realize uma grande exposição sobre a história dos plásticos e esta se constitua como um passo importante para a criação de um acervo patrimonial que deverá ser estudado e permanecer disponível para além daquela mostra.

Para que a exposição seja representativa da região, o Museu tem estado a desafiar a população a partilhar brinquedos de infância, artefactos do quotidiano, objetos de devoção, rádios, telefones, talheres, caixas, móveis, sapatos, candeeiros, chávenas, tudo o que for feito em plástico e esteja guardado “na cave, nos armários fechados há décadas e nas caixas esquecidas no sótão e cobertas de pó”.

A campanha está a decorrer até junho/julho deste ano, mas muitos objetos foram já entregues, a maior parte de uso doméstico.

Nesta iniciativa, o Museu de Leiria trabalha em associação com o projeto de investigação “O Triunfo da Baquelite – Contributos para uma história dos plásticos em Portugal”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e que está a ser desenvolvido no Centro Interuniversitário de História da Ciência e Tecnologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e é coordenado por Maria Elvira Callapez.

Este trabalho propõe-se trazer à tona aspetos da história dos plásticos em Portugal e se a cidade de Leiria foi o local onde se iniciou a investigação, é porque ela é o berço da indústria transformadora de plástico. A coordenadora explica que o projeto pretende “estudar o impacto dos plásticos na sociedade portuguesa, desde a sua chegada em meados de 1930, através da baquelite, o primeiro verdadeiro plástico, num país agrícola, sem investigação química e tecnológica nem tradição industrial, em contraste com os países industrialmente mais avançados, onde o plástico já se assumia como emblema da modernidade”.

Mas não só. Estão igualmente a ser objeto de análise os aspetos tecnocientíficos dos plásticos e a sua comunicação ao grande público; a necessidade de preservar os objetos de plástico; a importância do plástico na evolução do design industrial, na estratégia das empresas e na vida quotidiana; a relação da indústria de plásticos com os seus atores, trabalhadores e elites locais, e com outras indústrias como a elétrica e de vidro. De fora também não ficam as questões energéticas e ambientais.

 

Questionada sobre o efeito reconciliador que o projeto pode ter na forma como as pessoas se relacionam com as matérias plásticas, Maria Elvira Callapez refere que “esse seria um objetivo demasiado amplo, uma vez que a complexidade da questão da relação da sociedade com o plástico obriga a fazer várias reflexões”. Para a investigadora, “existe, sem dúvida, uma relação ambivalente com o plástico” que, apesar da imagem negativa, “é omnipresente no quotidiano”, em concreto “na roupa que envergamos, nos objetos que manipulamos, no carro que conduzimos, nas casas que habitamos, nos hospitais que frequentamos”.

A exposição que vai contar a história dos plásticos está prevista para o primeiro trimestre de 2019. Para a organizar, a equipa conta também com o contributo de muitos empresários e trabalhadores da indústria, sob forma de entrevistas que vão permitir reconstruir a história e realçar o esforço dos seus protagonistas. Os fundos documentais das empresas, e as suas coleções particulares de objetos produzidos, estão a ser igualmente importantes.

A par da exposição, as equipas de investigação e do Museu de Leiria estão a projetar a realização de um congresso internacional sobre o plástico, na primavera de 2019. Maria Elvira Callapez adianta que estão a ser desenvolvidos contactos com os oradores, que serão reputados académicos e investigadores da área da história da tecnologia, materiais e dos plásticos.

Serão igualmente convidados designers internacionais com larga experiência no uso do plástico como elemento de trabalho.

Tem um objeto antigo de plástico? Saiba o que fazer

Se tiver objetos ou elementos documentais na sua posse que considere terem interesse para esta temática, remeta uma ou mais fotografias das peças, uma breve descrição e história das mesmas, para o endereço do Museu de Leiria: museudeleiria@cm-leiria.pt. Em seguida, após análise da informação remetida, a equipa do Museu de Leiria entrará em contacto para informar sobre o interesse da peça, e, nesse caso, para formalizar um possível depósito temporário ou uma eventual doação ao Museu, visando a sua exposição ou integração no acervo do Museu de Leiria/Município de Leiria.

Texto publicado na revista Moldes e Plásticos 2018, distribuída com a edição do REGIÃO DE LEIRIA de 25 de janeiro de 2018

O design e a sustentabilidade da indústria dos plásticos e moldes

Leiria é uma referência nacional e internacional na área da transformação e produção de moldes para plásticos (sobretudo injeção). Este estatuto adquirido é fruto de uma série de fatores que vão desde o acompanhamento e recurso das empresas às tecnologias de produção de ponta, o associativismo nos sectores, os centros de investigação e formação, os politécnicos e universidades, etc. Penso que este é mais um exemplo de uma característica intrínseca dos portugueses e que é transversal a outras áreas, que é o saber fazer bem.
O plástico foi o material do séc. XX e continua a ser o do séc. XXI, trouxe a possibilidade de avanços tecnológicos em praticamente todas as áreas da intervenção humana.
A nossa qualidade de vida melhorou consideravelmente, fruto dos milhares de soluções (objetos) que são sustentadas pelo plástico. Este foi veículo para o fácil acesso a tecnologia, energia, alimentos, saúde, medicamentos, vestuário, educação, cultura, etc. e, consequentemente, o célere desenvolvimento dos diversos sectores. Em contrapartida a vulgarização do mesmo, aliado a um baixo valor monetário, fez com que se tornasse um material descartável – resultando num dos maiores problemas que enfrentamos atualmente ao nível ecológico – sendo a falta de cultura de utilização correta deste material um dos principais causadores. Para agravar esta e outras questões, continuamos a queimar ininterruptamente a principal matéria prima que o compõe – o “petróleo”.
Tem sido crescente o número de países que começaram a impor restrições a determinados produtos feitos em plástico, com taxas ou com proibições. Veja-se o caso do Quénia, onde foi proibido o uso, a produção e venda de sacos plásticos sendo considerado crime qualquer uma destas situações com direito a pena de prisão. Prevê-se o encerramento de 176 fábricas e a perda de 60.000 postos de trabalho neste país.
Estas e outras questões têm suscitado uma preocupação crescente por parte dos consumidores o que, naturalmente, vai obrigar a que também neste sector haja uma maior necessidade de enquadrar fortemente o Design e Engenharia de Produto de forma a otimizar e encontrar melhores soluções para os produtos à base de plástico.
Normalmente, o design é associado à estética e ao aspeto dos produtos, mas na realidade, pode ter uma intervenção bastante mais extensa. O design, atuando como integrador, facilitador, comunicador, diferenciador ou estratega, vai certamente contribuir para a criação de valor a diferentes níveis. Integrar o design nas equipas multidisciplinares das empresas é sempre uma mais-valia.
Muitas empresas da região já trabalham nesse sentido, no entanto e, apesar de o design e engenharia de produto estarem bem cotados no distrito, reunimos condições para fazer mais e melhor.
O investimento nestas áreas deve ser feito em função da capacidade das empresas para conseguirem criar as condições necessárias para a sua sustentabilidade e prosperidade. 

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