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“Cidade das Bicicletas” debate o regresso das duas rodas para melhorar qualidade de vida

Já vão distantes os tempos em que a bicicleta era presença evidente na paisagem urbana na Marinha Grande. Mas “o rei vai deixar de ser o automóvel. As novas gerações não querem ter carro”, anuncia Paula Teles, especialista em mobilidade.

Na Marinha Grande e no país, o uso da bicicleta decaiu ao longo dos anos

Já vão distantes os tempos em que a bicicleta era presença evidente na paisagem urbana na Marinha Grande. O reinado do automóvel também vingou na cidade vidreira. Ainda assim, durante toda a manhã desta sexta-feira, o veículo de duas rodas que já valeu à Marinha Grande ser conhecida como “Cidade das Bicicletas”, voltou ao centro do debate. “O rei vai deixar de ser o automóvel. As novas gerações não querem ter carro”, anunciou Paula Teles, docente e consultora de várias autarquias nas áreas do transporte e mobilidade. A iniciativa que reuniu especialistas e público no Teatro Stephens, resgatou o uso da bicicleta, e não só, para a discussão sobre a forma como nos deslocamos. A ferrovia também não escapou à discussão. Afinal, a cidade é atravessada pela linha do Oeste. Durante muitos anos, a bicicleta foi o transporte eleito por muitos para se deslocarem para as diversas indústrias em torno da cidade. Mas os tempos mudaram. Os dados do Censos de 2011, revelaram que na Marinha Grande, o automóvel era usado em 76% dos movimentos pendulares: viagens regulares de e para o trabalho. A bicicleta só reunia 3,4% das utilizações. Ainda assim, bem acima da média nacional (0,5%). O espaço que o automóvel retira ao usufruto das cidades, o desafio de combate às alterações climáticas, são alguns dos argumentos que acrescentam peso na defesa do uso da bicicleta. Paula Teles aponta as experiências já em curso no país, que incluem a disponibilização pública de dezenas de bicicletas, muitas vezes junto da comunidade estudantil, como passos que permitem abrir caminho a uma maior utilização do veículo de duas rodas que coliga com o utilizador para assegurar a mobilidade. Esse tem sido boa parte do desafio de Joana Ivónia, investigadora da Universidade de Aveiro e fundadora da Ciclaveiro, associação para a mobilidade em bicicleta. Tem vários projetos, sobretudo junto do público escolar, para incentivar o uso da bicicleta. A implementação de comboios de crianças em bicicleta, conduzidos por adultos nas deslocações para a escola, é um dos exemplos.  E garante que os resultados são promissores. “Invadir as ruas com crianças a andar de bicicleta de forma segura é a minha motivação, por cidades mais humanas e felizes”, lembrou aos participantes. O desafio de mobilidade alternativa ao reinado automóvel é grande. Que o diga Paulo Santos, que fez questão de se deslocar na linha do Oeste e de bicicleta para chegar à conferência. Engenheiro civil especializado em projetos de estradas, é adepto da bicicleta e do uso do comboio. A falta de comboios em horários apetecíveis e úteis é uma dificuldade. Resultado: chegou depois das 10 horas da manhã, já após o arranque dos trabalhos, uma vez que não conseguiu ligação ferroviária atempada para a cidade vidreira. “Deviam lutar para eletrificar a linha do Oeste”, exortou, lembrando que bastaria colocar mais um comboio a circular na linha para dobrar o número de ligações, permitindo horários adequados às necessidades dos utilizadores.

O uso do jogo para melhorar o processo participativo foi ensaiado esta manhã 

Dinamizador do mapa rede nacional de cicloturismo, está apostado em acrescentar mais 400 quilómetros de estradas com reduzido tráfego automóvel, bem como ciclovias e ecovias quando existentes, para uso da bicicleta. Elogiando a maior ciclovia florestal existente nesta região – que liga Osso da Baleia à Nazaré -, Paulo Santos lembrou que o cicloturismo é um vasto mercado que deve ser maximizado pelas regiões.

O fórum técnico que hoje decorre na Marinha Grande, surge no âmbito da iniciativa Repensar São Pedro de Moel 2020 e conta com a co-organização do departamento de arquitetura da Universidade de Coimbra, da Câmara da Marinha Grande e da Associação para o Turismo Protur. E nos processos de mudança, participados, importa ter a estratégia que melhore os resultados do envolvimento cívico. Micael Sousa, investigador na área do Planeamento e Território, aposta nos jogos analógicos para garantir uma atividade colaborativa de sucesso.

E foi em cima do palco que colocou em prática esse modelo. Com a colaboração de elementos da plateia, jogou-se um jogo de tabuleiro que incentivava a colaboração para planear a mobilidade na cidade vidreira. Uma das primeiras opções dos jogadores foi a criação de uma ciclovia, na “Cidade das Bicicletas”.

Os trabalhos prosseguem esta tarde com a discussão do tema: “Binómios virtuosos ou perversos? Património Florestal e Turismo Natureza, versus, Património Construído e Turismo Cultural”.

Carlos S. Almeida
Jornalista
carlos.almeida@regiaodeleiria.pt


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