
A Direção-Geral do Património Cultural quer que o esqueleto da Criança do Lapedo e artefactos arqueológicos associados sejam classificados como bem de interesse nacional, com a designação de “tesouro nacional”, segundo anúncio publicado esta quinta-feira, dia 16, em Diário da República.
O despacho assinado pelo diretor-geral do Património Cultural, Bernardo Alabaça, anuncia que vai propor à secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural a classificação “tesouro nacional” do esqueleto da Criança do Lapedo – conhecido como “Menino do Lapedo” – e artefactos arqueológicos associados, que se encontram no Lagar Velho 1, na freguesia de Santa Eufémia, em Leiria.
No ano passado, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) abriu um procedimento de classificação do esqueleto da Criança do Lapedo, “cuja proteção e valorização representam valor cultural de significado para a Nação”.
O pedido de classificação fora avançado em dezembro de 2018, pelo Museu Nacional de Arqueologia.
Em 2018, o arqueólogo João Zilhão, que há 20 anos liderou a primeira equipa que trabalhou no local do achado, o Abrigo do Lagar Velho, considerou que o pedido de classificação era positivo.
“Gostava que a classificação se transformasse em meios para continuar a investigação. Se for só tesouro nacional e não houver meios, é só conversa. Palavras levam-nas o vento”, disse, no final da intervenção na conferência “Menino do Lapedo – 20 anos depois”, no Museu de Leiria, na altura.
O arqueólogo lamentou que o esqueleto só tivesse sido exposto ao público uma vez, “e na Alemanha!”, numa exposição por ocasião dos 150 anos da descoberta dos fósseis de Neandertal.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>“Em Portugal nunca houve, ainda, condições de o mostrar ao público”, sublinhou, recordando os esforços do diretor do Museu Nacional de Arqueologia.
“Ainda bem que há gente na Direção-Geral do Património Cultural e aqui em Leiria que mantém a chama acesa. O achado tem uma importância em si mesmo e, muito grande, como marco histórico nos debates sobre a evolução humana. Ao fim destes anos todos as pessoas entendem isso bem e tentam passar essa mensagem para a população. Só posso ficar contente”.
João Zilhão salienta a importância do “Menino do Lapedo” para a reabilitação do homem de Neandertal: “Naquela época havia a ideia dominante na comunidade científica – transmitida para o grande público – que os neandertais eram diferentes, meio brutos, que se calhar nem tinham linguagem. E que, na competição com uma espécie superior vinda de África, tinham acabado por desaparecer. Era uma simplificação grosseira do que tinha acontecido”.
Já este ano, o investigador das universidades de Lisboa e de Barcelona, dirigiu um estudo, publicado na revista Science, com base na gruta da Figueira Brava, em Setúbal, que reafirmou a sofisticação das populações neandertais na Europa, ao praticarem uma economia de subsistência, dedicando-se a diversas atividades, como a pesca e a recolha de moluscos.
O “Menino do Lapedo” foi encontrado em 1998, no Abrigo do Lagar Velho, no vale do Lapedo, freguesia de Santa Eufémia, a cerca de dez quilómetros de Leiria.
O esqueleto tem 29 mil anos e constituiu um acontecimento marcante no seio da paleoantropologia internacional, por se tratar do primeiro enterramento Paleolítico escavado na Península Ibérica.